Zecão


      Zecão era um garoto bastante extrovertido, de mais ou menos um metro e oitenta centímetros da altura, uma figura fantástica, porém, de aspecto engraçadissimo, sua simples presença era motivo de brincadeiras entre os amigos. Em sua pré-adolescência, comentava que pretendia arrumar uma garota para ficar, mas se ela fosse legal, namoraria e quem sabe até com ela casaria.

O tempo foi passando, seus pais venderam a pequena casa em Arraial do Cabo, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, e foram morar num condomínio de prédios na Zona Oeste da Cidade Maravilhosa, lá tinha quadra de esportes, piscina, etc. o garoto não saia da quadra, pensava um dia poder se tornar um atleta da bola e quem sabe ser campeão não só na vida, mas também nos grandes palcos do mundo.

Zecão olhava com olhar de pidão a todas as meninas bonitas que por ele passavam, mas nada falava para elas ouvirem, simplesmente olhava e fazia cara de desejo, certo dia alguém de sua turma resolveu apelidá-lo de “Torú” (era forte feito um touro), mas era muito bem humorado e não tava nem aí para o azar; levava tudo na vaselina.

Numa bela tarde de domingo, emperiquitou-se todo, perfumou-se, passou pela portaria do prédio onde estavam reunidos os amigos e disse:

- Hoje eu vou ter que arrumar uma namorada, vocês vão ver!

Imagine, foram gargalhadas em coro! O garoto tomou de repente aspecto de timidez, baixou a cabeça e pôs-se a imaginar... Nada disse de imediato. Pensou algum tempo e quis humilhar os amigos dizendo:

- Tô com dinheiro! Posso ir aonde eu quiser e até sentar num barzinho para tomar uma cerveja acompanhado de uma linda garota, vocês que são uns “durangos” têm que ficar ai fofocando a vida dos outros, seus sacanas!

Entrou numa vã e lá se foi. A turma que nele encarnava se desfez saindo da portaria. Mas tinha um desses amigos de codinome “Morcego” que morava de frente para entrada principal do prédio e não saia da janela, quando perguntado por que ficava ali, respondia que era para ver a banda passar...

Não levou muito tempo o Zecão, agora apelidado de “Torú” desceu no ponto ao lado de uma bela garota e com ela entrou no prédio de mãos dadas, “Morcego” permaneceu na janela sem acreditar no que estava vendo, mas, enfim, fazer o quê?

Continuou na janela,  viu “Torú” quando também saiu de mãos dadas com a garota. Não se conteve, no dia seguinte reuniu os amigos e contou-lhes a estória, ninguém acreditou; mas tarde, o próprio Zecão confessou-lhes que era mesmo um péssimo paquera, que para fazer com que a garota entrasse e saísse com ele no prédio de mãos dadas teve que disponibilizar para ela a bagatela de R$ 200,00, cem para entrar e cem para sair.

A turma caiu na pele dele, a coisa foi tão engraçada que acabou chegando aos ouvidos de seu pai, que era um cara durão, não dava molhe para os filhos. Sabe o que o velho fez? Confiscou o cartão eletrônico de Zecão e ele, coitado, não pôde mais dar uma de bonachão, pagando uma garota só para de mãos dadas exibeir-se diante dos amigos. 

R J Cardoso
Enviado por R J Cardoso em 10/09/2008
Reeditado em 15/09/2008
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