Casamento Nordestino II

- Por isso ninguém lhe encontra no seu comércio, não é Sr. Manuel Tertuliano?

- Ora, Ora! D. Tereza! Por isso não, se a senhora quiser volto prá lá agorinha mesmo, só pára lhe atender.

- O Sr. Devia estar, era lá. E não passeando como desocupado.

- Êpa! Vamos parando! Vamos parando! A senhora nem é nada minha.

- Graças a Deus! Antes só. Já começo a sua fama.

- Do que a senhora está falando?

- Já lhe dei conversa demais seu Manuel Tertuliano.

- Quem é esse que nem conheço? Por que a senhora num me chama de Maneco Terto, como todo mundo.

- Já lhe dei prosa demais. Sou moça de casar num posso está assim de conversa Sr. Maneco Terto – que nome horrível, parece nome de cangaceiro empalhado em museu.

- Ô xente! Me diga que sim e caso com a senhora agorinha.

- Casa nada, é conversa.

- Caso.

- O Sr. é lá homem de casamento Sr. Manoel Tertuliano. Só lhe vejo em enrolada.

- Eu? Ora, ora! Tá olhando minha vida é?

- Vou é embora, tenho mais o que fazer. O Sr. Nem pode me sustentar.

- Conversa! Tá é correndo do assunto, diga sim se quiser ver.

- É? Então é sim, quero ver.

No meio da feira de Surubim. Em meio ao seu barulho frenético dos vendedores de tudo. Maneco Terto paralisou. Parecia tudo silêncio. Olhou bem nos olhos de Tereza e sentiu que a parada era no sério. Repassou sua vida em segundos. A vida de solteiro, como diz outro Manuel: num era mais essas Coca Cola toda. Mas e a liberdade? As farras sem hora? Mas quanto tempo esperou a permissão de Tereza? Quando outra vez? Olhou o tempo. Sentiu um vento claro, duma manhã de sábado, remexer em redemoinho uma folha solta no ar sem direção. Avistou o campanário da Igreja Matriz de São José. Pediu proteção. A saia justa estonteante de Tereza entre a cruz e a espada.

- Como é? O cangaceiro empalhado vai ficar aí parado? Sabia! O Sr, Sr Manoel Tertuliano não é homem pra casamento.

Tereza de súbito virara-se dando o primeiro passo para ir embora.

- Caso agora!

O rosto de Tereza se iluminou ou mesmo tempo que lhe bate no peito um resto de insegurança. Tereza não é hora para isto, pensou consigo, quanto tempo escondeu o sentimento que queimava suas entranhas, lutara tanto para afastar Maneco da cabeça, mas o miserável ocupava mais espaço, toda vez que se encontravam. O sorriso dele que mais mordia suas tetas e as coisas pareciam sair de seu controle, seu ciúme quase incontrolável quando o via de prosa com outras moças. Um mulherengo, Tereza sai dessa repetiu-se. Não! Insegurança não, é hora de ser feliz. Vira-se tal qual fera perseguida.

- Está me faltando com o respeito, Sr Manoel Tertuliano, o Sr é lá homem de cumprir palavra?

- Caso agora.

- Quero ver, aonde?

- Na Igreja, ora! No cartório, na macumba, no bar de Faísca, no lugar que a senhora quiser.

- Na Igreja e no cartório, de papel passado para mim já está bom. Vou trocar de roupa lhe encontro lá.

- êi, êi! Eu disse agora. É daqui para lá, agora. A senhora por acaso está querendo se sair da situação.

A verdade mesmo, é que batera a porta de Maneco uma insegurança também. Uma tal, de ela marca e não vai, como aconteceu com Zé Corninho que preparou tudo direitinho e Joaninha não foi e até hoje a cidade inteira comenta, quando ele passa.

- Se é agora é agora. Estou pronta. Deixo a sacola de compras na porta da Igreja.

Nosso cronto tem que parar por aqui. Claraluna, Ângela, Evelyne, saudade, e outros tantos que na sua graça e na sua generosidade lêem, a culpa é do Recanto das Letras. Escrevemos um texto com mais de uma lauda, dá preguiça na turma. Sou obrigado a crontar o restante da história depois, conto o final prometo. Até por que nos falta uma pontinha de investigação no desvendamento do misterioso casamento e temos compromisso sublime com a verdade. Esse pedacinho da história dedico, a Joca das galinhas que depois de muito trabalho e de muito num sei direito, me contou.

Crontei.

Depois eu cronto mais.

Manuel Oliveira
Enviado por Manuel Oliveira em 12/09/2008
Código do texto: T1173960