Um ano em Pereirópolis XXIV - "A nova narradora"

Meu nome completo é Fernanda Ritter de Mello. Desde que nasci, mãe, pai, a família inteira, todo mundo raramente usa meu nome inteiro - para eles, eu sou a Fernandinha, ou só Fê. Mas no colégio, onde todo mundo tem o saudável costume de zoar com qualquer coisa (qualquer coisa!), meu nome foi motivo de gozação. Logo no pré, quando eu era pequenininha, me chamavam de Fernanda Collor de Mello. Depois, da primeira até a oitava série, eu era Fernanda HenRitter Cardoso. Eu fiquei muito feliz quando o Lula foi eleito e, enfim, os colegas me deixaram em paz.

Estou fazendo o primeiro semestre de Jornalismo na UNIPER. Ainda não sei se é exatamente o que eu quero fazer da vida. Sabe, como não tinha ainda o curso de Administração - que é a primeira opção para quem não sabe o que quer cursar - escolhi Comunicação Social. Mas... não sei. Minha mãe é psicóloga, mas sempre gostou muito de literatura. Meu pai é professor de biologia, e sempre quis ser músico. Meu avô é agricultor e tem uma videolocadora. Acho que viver dividida entre ser uma coisa e outra coisa é mal de família... A única que sempre soube exatamente o que queria ser foi a Vó Amália: professora. Pena que eu nem a conheci.

Sou namorada do meu melhor amigo: o Eninho, neto da Dona Mercedita (sim... o mesmo Eninho da lata de dinheiro). Não sei até que ponto isso é bom, ou ruim. A gente se conhece desde beeeeeem pequinininho, e brincamos juntos desde sempre. Eu sempre gostei muito, muito, muito dele; e ele sempre gostou muito, muito, muito de curtir com a minha cara - e de me "roubar beijos". Fomos na primeira festa juntos - um baile de carnaval, quando eu tinha quatro e ele oito anos. Eu estava fantasiada de cigana e ele de pirata - mas o Vô Horácio disse que ele estava parecendo o Giuseppe Garibaldi, e o apelido pegou. Quando a gente estava voltando para casa, de mão dada, a mãe conta que eu disse assim: "Eninho, quando eu crescer eu vou casar contigo." E ele não disse nada na hora. Mas, quando a gente chegou em casa, ele perguntou pra minha mãe: "Tia Beatriz, com que idade que as pessoas casam?". E ela disse "Depende, Eninho. Mas é bom casar depois de ser adulto." O Enio pensou um pouco e disse: "Quando a Fernanda tiver dezoito anos, eu vou ter vinte e dois. Aí a gente vai ser adultos."

Bom... eu já tenho dezenove, e o Ênio tem vinte e três. Até agora, nem ele, nem eu tocamos no assunto do casamento. Acho que está melhor assim.

F.R.M.

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Fernanda Ritter de Mello (F.R.M.) é neta do Seu Horácio Ritter, o contador dos Causos de Pereirópolis. Daqui por diante, quem irá fazer o "meio de campo" entre ele e você leitor, é ela.

Seja bem vinda, Fê!