Um ano em Pereirópolis XXVI - "Porco cán"

Quem mora aqui no Rio Grande do Sul, especialmente na Serra ou imediações, sabe o quanto os italianos - ou os "gringos", mas nem todos gostam de serem chamados assim - são pessoas admiráveis. Nem todos são adoráveis, e mesmo os que são, não o são sempre - mas isso não é muito diferente de qualquer outra etnia. Mesmo assim, por mais acostumado que se esteja aos modos dos gringos, eles sempre são surpreendentes.

Em lugares mais distantes de Caxias do Sul, como Pereirópolis, a colônia italiana é pequena. Para ter uma idéia, aqui vivem apenas duas famílias: os Rissi e os Gobbo. Uma das minhas melhores amigas, a Giane, é da família Rissi.

Esses dias, eu, a Giane e a Débora (sempre, né?) combinamos de fazer um trabalho da faculdade juntas, um artigo para publicar na revista do Laboratório de Comunicação (a Gi faz Letras e a Débora é minha colega de Jornalismo), e nos reuniríamos na casa da Gi. Nesse mesmo dia, a mãe dela tinha combinado com o Tio Bepe, e os três primos da Giane, para fazerem uma reforma no banheiro, alguma coisa a ver com a descarga que ficava o pingando ou coisa assim. Sentamos à mesinha do PC para escrever - pra variar, eu é que fui escalada para organizar as idéias caóticas das duas - quando os Pedreiros Rissi começaram a trabalhar. Gente... vocês já viram algum filme onde mostram os italianos, sempre em grupos, falando com as mãos tanto quanto falam com a boca, e vociferando uns com os outros na maior emoção como se estivessem na bolsa de valores? Na vida real eles são muito, muito mais "energéticos". Quatro gringos trabalhando no mesmo lugar, no caso, um banheiro de um e meio por três metros, batendo e xingando a caixa de descarga, falando todos ao mesmo tempo em um volume assustador, cantando, serrando, contando piadas, em meio a muitos "Porco cán!" e "Dio Cristo!" e "Madonna!". Foi uma tarde beeeeeeem longa. Divertida, mas saí do apartamento da minha amiga totalmente zonza.

Comentei com meus pais sobre o evento e, para minha grata surpresa, o pai teve a idéia de chamar o Tio Bepe Rissi e os três filhos para conduzirem uma obra aqui de casa, um "puxadinho" que fazia horas que eles queriam fazer. Segundo minha mãe, que estava de férias na época e ficou em casa acompanhando a reforma, foram os dois meses mais engraçados e mais barulhentos de sua vida.

F.R.M.