DESABAFO

- Kessy, Kessy... Onde andará esse garoto que não responde? Tantas coisas para fazer e esse moleque no mundo. Ai Senhor! Estão caindo as roupas do varal, e eu aqui, fazendo tudo para esse bando de vagabundos e mais essa agora, esse menino acha de desaparecer justo agora quando mais preciso dele.

- Eu, uma velha acabada, tendo que me preocupar com esses, esses... Ora Kessy, por onde você andava? Você não se importa de deixar sua avó assim menino, tão fatigada de preocupação. É, essa turma de hoje em dia não liga a mínima para os mais velhos. Um dia, você chega aqui e encontra-me mortinha da silva, aí acabou-se o que era doce. Sabe, aí essa criatura besta deixou de existir, pois é, passou dessa para a melhor, e sabe mais, você e seus irmãos malcriados não terão ninguém para tomar conta de vocês, enquanto sua mãe se mata de trabalhar para dá uma vida digna a você e a seus dois irmãos.

- É, seu pai sumiu no mundo e deixou-lhes sem ao menos se preocupar se vocês aprenderiam a falar o nome daquele, daquele bêbado safado. É meu filho, tomara que sua mãe consiga algo de bom na vida, pois acho que infelizmente meu tempo se esvai, como a água da lavanderia onde lavo as roupas de vocês. Acho que não tenho tanto tempo, o meu tempo já passou, ficou numa época bem remota, quando seu avô era vivo. É, aquela criatura doce e que nunca esquecia dum sorriso largo no rosto.

A velha então, senta no batente da cozinha onde o garoto de mais ou menos oito anos ouve em silêncio o seu desabafo como se aquilo fosse uma bronca, uma bronca passada a quem não está habituado a ouvi-la, principalmente de sua tão amada avó.

O garoto então, agarra as saias da avó, deita a cabeça em seu colo e põe-se a chorar.

Soliana Meneses
Enviado por Soliana Meneses em 11/03/2006
Código do texto: T121570
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