A volta do boêmio cheio de chifre

A volta do boêmio cheio de chifre

-Olha Izaniel, eu resolvi voltar. Falo contigo porque nossa amizade não foi pegada de arapuca e desde que eu me entendo de gente que a gente se conhece, moramos v izinho, ali no Porenquanto, a gente era menino ia tirar caju nas quintas da Primavera, a gente caçava passarinho, pescava no Poti e eu me lembro que o primeiro baseado foi tu quem me deu e eu fiquei muito doido, sai cantando pela beira de rio e tu preocupado porque eu tava dando bandeira e o Chico da Socorro era PM enquadrado e podia dar cana na gente, tu te lembra ? Depois a gente descobriu que o soldado fazia era vender o mato para a galera do Morro do Urubu ... Lembra de quanto a gente fazia aquela brincadeira do pau cagado ? A gente se fazia de querer brigar um com o outro, um com um pau na mão e o outro sem nada. Aí um dizia que o outro tava valente porque tava armado de pau. Queria ver era sem o pau na mão.Aí o outro dizia que por isso não e pedia para um peru que queria ver a briga segurar o pau.Aí, a gente puxava o pau e o cara ficava com a mão toda cagada e aí a gente corria... A galera ficava se abrindo e o sujeito com a mão cagada. Rapaz, era muito legal, aquele tempo, heim ? Naquele tempo, não tinha moleque assaltando, estuprando e o mais que a gente fazia com as meninas era botar nas coxas... E com o juramento de não dizer nada para os outros para a menina não ficar falada. Tu sabe que desde aquele tempo que eu olhava para a Luzanira ? Ela era menina velha, só tinha olho, a gente chamava doca dos oião. Mas depois ela foi se entornando, umas pernas linheiras, nem grossa nem fina, média, média.E a cara ? Rapaz, eu não sei se é porque eu já era apaixonado e não sabia mas eu sempre dei valor aquela mulher Dei a maior força para ela ser a rainha daqui do bairro, depois falei com um viado que escreve no jornal para botar o retrato dela, o cara disse que botava mas eu tinha que sair ali com ele, eu disse que só depois de sair no jornal.Ele botou no jornal e eu não fui porque nunca gostei de viado, tu sabe disso, só em pensar em encostar em cara barbado me dá uma gastura desgraçada.. Olha. Izaniel, amigo velho de guerra. Aqui tem o teu amigo Liberato vencido pelo amor. Eu vou botar , de novo dentro de casa. Não aguento mais olhar as paredes da casa, a cozinha, a cama, a cama, macho vei é que me mata. A cama. Não posso olhar para a cama. Onde eu e Luzanira saculejava tanto. E quando a gente queria variar ia para rede e os “armador” ficava fazendo “renco,renco” e eu passava óleo de cozinha e ela dizia que não carecia não, deixa o armador roncar...e vamos amar.Ah, amigo velho, só quem sabe o tamanho da dor de uma saudade é quem sofre dela... O povo pode até dizer que depois que eu larguei ela, ele se amancebou cm o Chico da Oficina mas que tem isso ? Eu também não sai com uma menina do Pingo Dagua, uma do Chão de Estrela e outra lá no Forró do Anatole ? Elas por elas,mulher e homem não ficou só para um não. Aquilo se alarga mas volta e lavou tá novo.A vida é assim mesmo, macho velho.Tu faz essas cara que eu já sei.Mas é isso mesmo. Amigo é para ouvir o outro. Tou te contando porque a gente é como se fosse dois irmãos a gente foi vizinho e vai ser de novo.Vamos morar ali, na Vila. Na mesma casa.E eu tou te avisando porque tu é meu amigo.Avisa lá a tua mulher que ela até ficou do meu lado quando eu me separei da Luzanira e tu até disse para ela não se meter mas é isso mesmo,amigo é prá essas coisas. E olha aqui este CD que eu comprei lá na praça Rio Branco: Nelson Gonçalves cantando A Volta do Boêmio...