Futebol ao som de Raul

Algumas pessoas encontram a coragem ao romperem com seus próprios conceitos. Eis a história de Maira, mais uma mulher entre tantas que precisam apenas tomar uma decisão para ser feliz na vida.

Maira precisava organizar as idéias, colocá-las numa prateleira, todas empilhadinhas e escolher uma, focar a vida.

Mas se dispersava com qualquer barulho da rua, não conseguia concentrar-se. Dizia a si mesma que precisa decidir... subia nas escadas dos livros, tentava fazer brilhar alguma idéia bendita. Pedia conselhos, ouvia todos... mas não compreendia... afinal quem a entenderia... se nem ela entendia. Buscou nas experiências alheias, relatos e nada... nada vinha.... só uma pressão maior... o tempo se esgotava a cada hora, cada dia, minuto. Maira pirava sozinha. Certo dia comprou um cigarro (ela não fumava), uma bebida (ela não bebia) e um pouco de maconha (ela não usava drogas, era careta mesmo!) e foi para casa.

Começou pelo cigarro, deu uma boas baforadas e umas boas risadas, rompia com toda a educação da escola, da família, do governo, da “puta que o pariu” que dissesse que fumar fazia mal. Naquele momento, pra ela, fazia bem.

Pegou um copo e serviu a bebida, lembrou de um namorado que adorava um trago, brindou a ele.

- Salve o idiota! – gritou depois de mais uns goles (ela não gritava)

Por sorte conseguiu comprar um baseado já fechado, afinal ela não precisa de nenhum inteiro. Alguns “pegas” já levavam Maira há um outro estado de consciência.

Ligou a TV, passava algum jogo de futebol. Divagou sobre 22 “retardados” correndo atrás de uma bola. Até que então se deu conta, que era disso que precisava, marcar um gol! E vibrar a sua vitória!

Nunca prestou atenção tanto ao futebol como naquele dia. Precisava elaborar estratégias, ser zagueira, meio-campo, atacante e goleira, afinal tomar um gol estava fora de cogitação.

Passou a organizar o time, ser a técnica de si mesma... . Ao som de Raul “controlando a minha maluques, misturada com a minha lucidez”, traçava seus próximos objetivos, tentava ficar maluca, algo que nunca se permitira.

No dia seguinte, acorda com ressaca, os cabelos piores do que costume. Ainda bem que moro sozinha – repetia a si mesma. Liga o rádio e lá vem Raul de novo.... “tente outra vez...”.

- Porra (ela não falava palavrão) Raul! Eu a recém comecei... a pensar diferente!

Maira desandou, caiu em choro. Aquele maluco dizia tudo que parecia certo... Mas ela que era a “certinha” que fazia tudo “conforme o regulamento” estava ali em prantos, desesperada por uma decisão que parecesse mais plausível... e com a certeza de que de “certa”, virou “louca”... porque “louco é quem me diz que não é feliz”.

Cansada de jogar na defensiva, desligou o rádio (rompiam-se conceitos, decisões). E antes que começasse o “segundo tempo”, partiu para o ataque. Saiu da gaveta, uma nova Maira... e nem foi preciso empilhar tantas “fitas”.

Continuou "careta" como sempre foi (não curtiu a ressaca)...mas capaz de cometer "loucuras", quebrar "padrões". - Foi ela, atrás do que sempre quis pra sua vida! -

- Antes tarde do que nunca – dizia Maira quando abriu a porta de casa decidida.