Simplesmente professora

Rola pela cama, impossível conciliar o sono. Levanta-se... Como serão os olhos? Como olharão para ela? Terão sede de saber? Dúvidas? Certezas? Ou indiferença?Todos reclamavam tanto... “os alunos andam desmotivados, indisciplinados... tudo é difícil. Não vale a pena. Profissão impossível!”

Tinha certeza da sua escolha. Ver meninos que sorriem fascinados pela busca deles mesmos, a buscar e encontrar-se a cada pequena curva do conhecimento: prazer eterno. Agora estava insegura: “Como serão os olhinhos? E os sorrisos?” Ela estaria pronta? Era inexperiente. Fora aprovada no primeiro concurso que prestou...

Amanhã!

Assumirá sua sala. Como serão seus olhinhos? E os sorrisos? Acho melhor levar umas balas... melhor não, posso acostumá-los mal. Quais serão seus sonhos?” E a maior de todas as angústias: o que esperarão dela?

Era uma professora inexperiente. Ano que vem vai tirar de letra. Já estará preparada para o primeiro dia.

O grande dia chegou. Ela olhou para eles, eles sorriram (alguns), seus olhinhos diziam tudo: falavam de medos, de certezas, de desafios, de vontade de aprender e de indiferença. Um olhar especial chegou a machucá-la. O ano passou rápido... e a despedida foi triste, mas necessária.

Agora ela era uma professora experiente! O primeiro dia seria tranqüilo. Ela saberia o que fazer.

Amanhã!

“Como serão os novos olhinhos? Novos sorrisos? Novos sonhos?”

E o amanhã chegou novamente, sem que o sono fizesse seu papel reparador. Ela chegou: lá, estavam eles... será que se preocupavam? Os desafios foram outros, alguns maiores, outros nem tanto, mas a despedida também foi triste. Eles se foram também. Outros virão! Agora acabou a angústia do primeiro dia. Ela tinha certeza!

Trinta anos depois, ela não se aposentou. Era muito experiente: seus alunos eram bons pais e mães, bons cidadãos, professores, médicos, doutores. Alguns se foram pra sempre, outros voltam vez ou outra. “Tudo bem, professora?” Mas amanhã...

Como serão os olhinhos, os sorrisos, os sonhos?