É hoje o dia...

Marina, moça prendada, fora criada para ser esposa e mãe. Sua família humilde, mãe, pai e três irmãos mais velhos. Filha única, educada com muito mimo e carinho.

Sua infância tranqüila, com poucos amigos, pois sua timidez era notável.

Na adolescência, ficou ainda mais recolhida no seu próprio mundo, boa aluna, formou-se como professora.

Nunca trabalhou, lançou-se no mercado de trabalho, sem experiência, buscando trabalhar na área em que se formara.

Como todo início, as dificuldades encontradas por Marina eram muitas, pois o colégio particular solicitava professor com experiência, e geralmente eram indicados por outro professor. Nas escolas públicas, para lecionar, era garantido prestar concurso. Depois de muito procurar, ela resolveu que iria trabalhar como recepcionista numa escola de inglês.

O salário não era grande coisa, mas era complementado pelas aulas de inglês, que poderia cursar sem ônus. A necessidade de ter seu próprio dinheiro a fez aceitar.

Marina estava com vinte anos e nunca namorara.

Isso já estava a incomodando, suas colegas de trabalho, sempre comentavam sobre seus namorados ou “ficantes”, as baladas de fim de semana.

Ela gostava de trabalhar, pois conhecia muita gente e começou a fazer novos amigos.

O sonho de Marina era conhecer um grande amor. Todo o dia ao acordar ela se olhava no espelho e conversava sobre o sonho e dizia:

-Com certeza hoje é o dia!E caprichava na maquiagem, na roupa, não sabia se prendia o cabelo ou os deixava soltos.

Marina era de estatura média, pele clara ,muito delicada, olhos castanhos e cabelos pretos e olhos brilhantes.

Ela ia de carona para o trabalho com um professor, que morava próximo a casa dela. Fernando é seu amigo às vezes seu confidente.

Muito brincalhão, seu bom dia, era feito sempre com alegria e com a frase:

-É hoje o dia!

Marina sorria e lá iam os dois para a escola de inglês.

Depois do trabalho, Fernando sempre convidava Marina para um lanche num bar perto da escola. Ela nunca aceitava. Era um local bem aconchegante, lotado de jovens, com música ao vivo.

Porém, hoje ela decidiu que ia aceitar o convite de Fernando, quem sabe hoje não seria realmente o dia?

A ansiedade tomou conta de Marina. Ela não via à hora do fim do expediente.

Como de costume Fernando convidou-a para irem ao bar, já sabendo que receberia um “não” como resposta. Marina disse que aceitava com todo prazer, para surpresa de Fernando:

- Eu não entendi!? Você disse que sim? Não acredito!...

Ambos começaram a rir.

Fernando feliz da vida, por Marina ter aceitado seu convite, propôs a ela de brincadeira fingir serem namorados. Ela ficou meio sem graça, mas aceitou. Se eram amigos, não tinha nada de mais brincar um pouco.

Chegaram ao local de mãos dadas, dando a impressão de um casal apaixonado.

Escolheram uma mesa longe do palco, para conversarem e falarem mais um pouco de cada um.

Marina e Fernando eram colegas-amigos, sem muita intimidade, o que um sabia do outro, não ia além do trabalho e do caminho para casa.

Primeiro foi Fernando, que não era tímido, começar a falar de sua vida, de seu trabalho como professor, de seus sonhos e fantasias.

Marina ouvia calada, mas sentiu algo diferente que não sabia dizer ao certo o que era. Engraçado, pensou ela:

-Os sonhos de Fernando são iguais aos meus. Ele também quer encontrar alguém que o faça feliz.

Marina sentiu um frio na espinha, nunca tinha olhado Fernando como o homem de seu sonho. Para ela Fernando era seu colega e às vezes amigo...

Será possível? Para Marina jamais, ele a levará sério, eram colegas de trabalho e pronto.

-Agora, Marina é a sua vez..

-Fale um pouco de sua vida, seus sonhos, suas fantasias e não adianta de dizer que eu já conheço, quero saber mais.

Marina, nervosa, pela primeira vez, por estar perto de Fernando.

Seus lábios tremiam e a velha timidez tomou conta dela.

_ Não tenho muito pra falar, minha vida é sem graça e boba, todos os dias eu acordo pensando nas coisas que pode acontecer, nas pessoas que vou conhecer, mas termina o dia, chega à noite e nada aconteceu. Antes de dormir, penso que amanhã será um novo dia.

Fernando segurando as mãos de Marina disse:

- Você tem certeza que não acontece nada diferente?

- Não será hoje o dia?

Os olhos de Marina brilharam como nunca. Como não perceberá? Fernando, tão perto dela, era o grande amor, que ela buscará tanto...

Com certeza hoje era o dia...

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JÔ ANDRADE
Enviado por JÔ ANDRADE em 16/10/2008
Reeditado em 26/10/2008
Código do texto: T1232054