TESTEMUNHAS OCULARES

24 = TESTEMUNHAS OCULARES

Um grito estridente corta os ares, numa ensolarada manhã de primavera:

- Filinha! Minha Filinha! Atropelaram minha Filinha!

Corre gente de todo lado, curiosa, ver o que tinha acontecido.

O trânsito intenso, àquela hora da manhã, vai se tornando mais lento até que pára de todo, alguns, curiosos, para ver, outros porque não podiam passar com a rua congestionada.

E a Zefa chorando:

- Filinha! Mataram a minha filinha!

Todos falam ao mesmo tempo:

- Foi uma mulher

- Não, foi um homem de cabelos compridos numa Brasília amarela

- Não era Brasília, era um Gol branco..

- Eu acho que foi um Pálio prateado

E a Zefa inconsolável: :

- Filinha! Eu vou descobrir quem te matou!

Alguém chama a polícia.

O guarda chega e pergunta:

- Onde está a vítima?

- O Pai levou para casa.

- Mas ele não podia fazer isso. Tinha que esperar fazer a ocorrência.

- Mas fez. Embrulhou em uma toalha e levou embora.

- Alguém viu o acidente?

- Eu vi. Foi um Corsa amarelo

- Não, foi uma Brasília.

- Foi um Gol.

- Alguém anotou a chapa?

- Nãããããooo!!!!

E a Zefa se lamentando:

Ai! Como é que vou ficar agora sem a minha filinha!

A comadre Genu chega correndo.

A notícia já tinha chegado na sua rua e ela veio dar uma força para a comadre e amiga, coitada!

Abraça a comadre chorando;

- Que tristeza! Mas, quem foi? A Julinha ou a Cristina?

Repentinamente a Zefa para de chorar, arregala os olhos e protesta:

- Nãããooo! Deus me livre! Não foi nenhuma delas, foi a Filinha, minha cachorrinha, coitadinha! E recomeça a chorar.

O policial ouve a conversa e intervém raivoso:

- Então, não foi uma criança? Foi uma cachorra?

Volta-se para o povo e ordena:

-Chega de palhaçada! Todo mundo rodando!... Circulando!... Se não levo todo mundo para a Delegacia, e entra, ele mesmo, na viatura e sai a toda velocidade, tocando a sirene.

Em poucos minutos a rua está vazia e o trânsito se normaliza.

Zefa continua chorando, agora, sem platéia.

- Filinha! Mataram a minha Filinha!

De repende ela vê, do outro lado da rua, alguém acenando para ela.:

- Psssiu!

É a moça da banca de revistas, aquela que tudo vê e tudo sabe.

Zefa atravessa a rua apressadamente, no meio dos carros, correndo o risco de ser ela, também, atropelada e chega até lá.

- Eu vi quem atropelou sua cachorrinha. Foi a dona da Escolinha.

- Dona da Escolinha? Qual Escolinha?

- Aquela Escolinha nova que abriu lá na rua de baixo.

- Ah! Já sei qual é. Pois essa professorinha de uma figa vai me ouvir!

E lá se foi ela, pisando duro, espumando de raiva, dirigindo-se à Escolinha para dizer “muitas e más” para a coitada da professora.

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Doutora Glauciliana chega em casa, exausta, depois de um dia difícil no seu escritório de advocacia e comenta com o marido:

- Que dia péssimo eu tive! Imagine você que, logo de manhã atropelei uma cachorrinha. Acho que matei a pobrezinha!

Maith
Enviado por Maith em 28/10/2008
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