Ela queria ser um pássaro

Quando ouviu a campanhia sobressaltou-se. O som repetiu-se, uma , duas, três vezes.... O corpo cansado negava-se a levantar. Esticando o braço, desligou o despertador que insistia em trazê-la para a realidade. Espreguiçou-se lentamente, ouvindo um leve estalo nas costas e sentindo os músculos tesos. Não havia mais tempo, precisava criar coragem e enfrentar a rotina que estabelecera havia alguns meses, embora a vontade de arriscar e tentar um novo desafio, a fazia constantemente meditar na escolha que fizera. Levanta-se num ímpeto, e toma uma ducha fria, sentindo o sangue circular cada vez mais rápido e suas forças se renovarem. Abre a janela e vê um dia lindo, ensolarado, prometendo muito calor. Veste-se rapidamente e sai apressada, mentalizando um a um os compromissos que assumira para o dia... Suas mãos atrapalham-se ao fechar o portão. Enquanto com uma lida com o cadeado, a outra sustém os brincos coloridos, que deixara para colocar enquanto caminha em direção ao centro. Atravessa a rua com passos largos, atraindo olhares devido a sensual cadência dos quadris.... Recebe vários cumprimentos, alguns responde com um cordial bom dia, outros apenas com um leve aceno de cabeça.... Na Vila, todos se conhecem, e o cumprimento é uma forma de demonstrar apreço e amizade... Sai cantarolando baixinho, hábito que possui desde a meninice. Olha para o céu e se distrai ao observar vários pássaros voando em círculo... Gostaria de ser um deles, pensa enquanto espera o ônibus escolar passar, para então atravessar a rua. Nos seus pensamentos, divaga imaginando como deve ser a sensação de alçar vôo, planar, mergulhar no infinito, subir.... Está chegando, apenas alguns metros a separam do escritório onde trabalha. Os últimos passos faz pausadamente, enquanto observa o aglomerado de pessoas esperando-a... Arma-se de um sorriso e aproxima-se ouvindo calorosos bom dia, outros questionam acerca do tempo (será que vai chover?), outros, ainda tecem leves comentários sobre a política. Abre sua sala, senta-se e começa o atendimento: Pois não, em que posso ajudá-lo?

Sandra Vilela (Eternellement)
Enviado por Sandra Vilela (Eternellement) em 06/11/2008
Reeditado em 09/09/2010
Código do texto: T1268862
Classificação de conteúdo: seguro