DETESTO SER TRAÍDA

Ela me odiava. E eu sabia o motivo. Ela amava o marido. E eu amava o mesmo homem que ela. Juro, que se eu tivesse algum controle sobre o meu coração, as coisas não teriam jamais acontecido daquele jeito.

Mas eu sempre fui descontrolada. Apaixonada. Intensa. Tão rápido me apaixono e tão rápido me desapego. Com Mateus, no entanto, foi diferente. Quando ele se tornou meu vizinho, fez de tudo para me chamar atenção. Nem dei bola. Eu já sabia que o Mateus era casado com uma mulher muito bonita. E eu não estava nem aí. E ele insistiu. E quanto mais insistia, menos eu me interessava. Ela se deu conta logo. E passou a me odiar ainda antes de ter qualquer motivo para isto.

Um dia, casualmente, meu olhar se cruzou com o dele. Foram segundos, mas foi arrebatador. O Mateus passou de carro lentamente, os olhos cravados em mim. Ao lado, na carona, ela. Imagino o que se deve ter passado na cabeça daquela mulher. O marido flertando escancaradamente com umazinha qualquer. E esta umazinha qualquer – eu – com os olhos fixos no homem dela. Depois daquela manhã, meu mundo virou de ponta cabeça. E eu juro, eu juro que não queria que fosse assim.

Me apaixonei e não me desapeguei como eu já sabia que seria assim. O Mateus não é do tipo descartável. É daquela espécie de homem que você quer ter para sempre, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê. Quando eu me dei conta, estava desesperadamente perdida. E a mulher dele também. Ela sabia de tudo. A gente se cruzava pelos corredores do prédio, pegávamos o mesmo elevador. Eu esperava a qualquer momento que a pobre falasse alguma coisa, me ofendesse, me agredisse. E ela não fazia nada. Absolutamente nada. Aquele silêncio me feria mais que qualquer coisa. E o amor que eu sabia que ela sentia pelo Mateus me feria muito mais.

Eu não estava disposta a abrir mão do Mateus, mas nunca pedi que ele se separasse da esposa por minha causa. Eu apenas queria que ele fizesse as coisas conscientemente e que conscientemente o meu amado chegasse à conclusão que eu era tudo na vida dele. E os dias, semanas e meses foram passando. Parecia que toda a vizinhança sabia da gente. E todos me olhavam como a vilã da história. Os olhos vermelhos e chorosos da outra me perseguiam. Eu não queria ser vista como uma devoradora de homens. Infelizmente minha fama ficou justamente esta.

Um belo dia fiquei sabendo por terceiros que a desgraçada estava grávida. De três meses. Então percebi porque ela passava por mim com aquele brilho de vencedora no olho. Apalermada, me vi traída. O Mateus não tinha me contado nada. Eu quis cortar os pulsos, enfiar a cabeça no forno, saltar de um pára-quedas com defeito. Mas suportei o tormento de cabeça erguida e coração sangrando. Fui no salão e providenciei um look novo. Saí para a balada e encontrei um rapaz mais bonito que o Mateus. Procurei um outro emprego e consegui me transferir para outra cidade. É onde estou agora.

Do Mateus eu nada mais sei. Ele ligou para o meu celular e este eu joguei no mar. Não quero mais vê-lo, nunca mais. Detesto ser traída.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 09/11/2008
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