MORIBUNDOS SEM ALMA
Ao caminhar pelas estreitas e escuras
vielas da cidade perdida, olho para as
calçadas, sinto o cheiro dos mortos vivos.
Jogados ao tempo, seus cobertores...
Fedorentos, a fogueira ardendo, o vício
letal percorre suas narinas instalando-se
em seus cérebros. Ou o que restou deles.
Ou vai restar, afinal é o “CRACK DA VIDA!...”
Pedintes anônimos, agressivos passivos.
Moribundos sem almas, a vida absorvendo
à morte, a morte viva, rumo a lobotomia
total.
Mães com crianças ao colo, o crack
rodando de mão em mão.
Bebados, enfurecidos pelo poder da
droga.
Aquela que dominou suas vidas,
destrói os seus filhos, contaminou,
exterminou a luz que outrora os faziam viver.
São Médicos, engenheiros, escritores anônimos,
adolescentes, crianças, mães, pais, estudantes.
O poder institucionalizou a degradação da mente,
da família, da moral, do amor próprio, da vida.
O poder é cúmplice do genocídio legalizado pela
omissão, pelo desrespeito ao ser humano.
Será que ainda existe ser humano?
O humano desumano do viver.
A miséria de viver nas ruas, amontoados em
pilhas humanas, como cadáveres da segunda grande guerra.
Pilhas que constrangem o frio e o direito de viver.
Ah! Esta loucura faz doer à alma, corrói o peito...
Quanta indignidade, quantos governantes fétidos.
Para eles só o dinheiro importa, fecharam as portas,
Escondem a sujeira embaixo dos seus tapetes do cinismo.
Vivem da desgraça dos desgraçados pelo seu sistema.
Caminhamos com passos largos para o desterro da
Consciência, para o holocausto da sociedade.
Temos grande parcela de culpa. Fomos omissos e ainda somos.
Elegemos políticos profissionais para governar nosso povo.
Outorgamos-lhes o gerenciamento dos nossos destinos dos nossos filhos.
Hoje pagamos um preço muito caro pela falta de cultura,
educação e formação familiar...
Pela ignorância, pelo desmazelo, pela covardia, pela
Omissão. Amanhã poderá ser nossos filhos, quem sabe?
Moribundos sem alma, flagelo da integridade.
Quanta querência do não querer,
quanto prazer de ver o sofrer, o morrer, o vegetar...
O orgasmo em apontar erros com os pés atolados na lama
da insanidade, da cumplicidade imbecil. Nada justifica assistir
um irmão humano tornar-se um vegetal, um moribundo sem alma.
Todos somos cúmplices dessa vergonha, somos omissos, egoístas.
temos nossos lares, trabalho, saúde, mas...Temos também a arte de
ignorar a realidade, sem responsabilidades, somos um País?
Moribundos sem alma...
Carlos Sant'Anna