Desabafo marítimo

Dizem que o amor aqui não finda, pelo menos diziam...

Se você acha, que com tua curta vida já sofreu demais por isso, imagine eu, que já perdi o interesse de todos aqueles que em mim navegaram.

Quando ainda, eu era mistério, me transformaram até em prece – um tal de Fernando Pessoa se bem me lembro -.

Por falarem tanto do mar, raramente surgiam histórias de amor sem minha presença. Quantos foram os navegantes incertos, que em mim mergulharam para não mais voltar.

E os corajosos que me enfrentaram e descobriram a felicidade, o auge e por fim, meus segredos, que eu achava ter escondido tão bem.

Se soubesse das conseqüências que trariam suas naus, desejos e perseverança; Eu com certeza, ainda seria sinônimo de amor e não de distância.

Agora, sinto a culpa de ser um oceano que separa casais e amigos; Servindo hoje, para a maioria, apenas como fonte de lucro.

Engana-se ao achar que não tenho vontade de afundar cada um destes sujos navios de petróleo e ganância, mas de nada adiantaria, pois a dor de ver os aviões e o céu cobrindo minha raiva seria ainda maior, e eu ficaria definitivamente só, perdendo esses poucos marinheiros fracos que já não fazem livros para alimentar meu ego, mas, ao menos uma folha por viagem, contendo assim, minha ansiedade.

O que não evita um maremoto de vez em quando...