DIÁRIO DE UMA DIETA

DIA 1: Comecei minha dieta hoje mesmo. Sei lá, de repente eu me senti “a” gorda. Tudo por causa daquela minha tia chata. Eu estava de biquíni, jogando frescobol na praia. E ela disse na frente de todos os meus primos que eu estou gordinha! Todo mundo riu de mim! Fiquei furiosa! E decidi comer só salada. Hoje passei só a alface e tomate. Li num site da Internet que eu posso comê-los à vontade.

DIA 2: Me acordei com dor de cabeça. Fome. Nem dei bola. Bebi uns dois copos de água e passou um pouquinho. Nem olhei para a cara da minha tia. Recusei o café, o pão com margarina e fui para a praia. Voltei pra casa ao meio dia, tonta. Me empanturrei de alface e tomate o dia inteiro. Quando chegou de noite, caí dura na cama. Mas antes fiquei feliz quando percebi que minha barriga já tinha diminuído alguma coisa.

DIA 3: Desmaiei na praia, bem no meio do frescobol. Pura fraqueza. Tentaram me levar para o hospital, mas eu menti que estava bem. Meu tio me forçou a tomar um copo de leite. Quando ninguém estava olhando, fui para o banheiro e vomitei tudo. Ignorei as batatas fritas, o arroz, a macarronada. Enjoei do tomate e da alface. Passei o resto do dia comendo maçã e melancia. Meu rosto começou a ficar chupado.

DIA 4: A tia chata ligou para minha mãe e mentiu que eu estava doente. Eu não estou doente. Só estou de dieta. Estas tonturinhas passam. Minha mãe chegou enlouquecida e me levou de volta para a cidade. Meu pai se apavorou com meu estado. E eu nem sabia quantos quilos tinha perdido. Desmaiei de novo, desta vez no supermercado.

DIA 5: Fiquei deitada o dia inteiro, me recuperando. Os exames que me fizeram no hospital diagnosticaram um princípio de anemia. Minha mãe me obrigou a tomar uma sopa que ela mesma tinha feito. Não deu para vomitar porque minha irmã não desgrudou de perto de mim. Que droga!

DIA 6: Vomitei o café, o feijão com arroz... Vomitava só de imaginar comida. Pelo menos ninguém me via fazendo isto. Meus pais achavam que eu comia, só não entendiam porque eu ficava jogada no sofá o dia inteiro, sem força nem para ir ao supermercado. Acabei me viciando em maçã. Eu fazia uns copos enormes de suco de melancia. Eu me sentia meio estranha, mas minha barriga se foi.

DIA 7: Eu já era para ter menstruado há uns dois dias. Nada. Era só o que eu faltava eu ter engravidado do Fabinho. Mas quando ele chegou da praia e me viu, ficou chocado. Disse que eu estava virada em osso e cabelo. Quando eu falei que podia estar grávida, ele debochou da minha cara. Segundo ele, eu não tinha condições nem de gerar um mosquito. Fui obrigada por ele a comer a sopa da mãe. Argh! De novo não deu para vomitar com gente em volta de mim.

DIA 8: Desmaiei quando levantei da cama e me acordei no carro do Fabinho. No hospital me deixaram no soro e os médicos me apavoraram, dizendo que eu estava bem anêmica. Consegui perder cinco quilos em uma semana e isto me deixou feliz.

DIA 9: Fiquei com medo de me pesar. Acho que engordei. Meus pais e o Fabinho me obrigaram a tomar leite e a sopa nojenta da minha mãe. Passei o dia inteiro monitorando minha barriga. Minha tia ridícula tinha mesmo razão. Com cinco quilos a menos minhas coxas continuavam grossas. Uma barriga surgiu do nada. Não era possível. Amanhã eu vou para a academia malhar.

DIA 10: Por causa das comilanças de ontem, me levantei quase sem ficar tonta. Vesti minha roupa de ginástica e fui para a academia sem ninguém ver. Não cheguei a terminar a aula de RPM. Caí dura e foi o maior mico. A academia parou por minha causa e fui de ambulância para o hospital. Os médicos já me conheciam e disseram para meus pais que eu estava anoréxica. Mentira, eu estou é gorda.

DIA 11: Me tranquei no quarto e acabei não indo para a consulta com a psicóloga. Fingi que comi um pacote de bolachinha recheada e aqui em casa todo mundo respirou aliviado. Vomitei tudo, claro. Só que sem querer, desta vez. Meu estômago não suportou. Voltei para minha maçã. Meu cabelo começou a cair.

DIA 12: O Fabinho me fez uma ameaça: ou eu voltava a comer ou ele me deixava. Prometi que eu voltaria a comer. Mentira, claro. Eu não posso perder o Fabinho, o pai do meu filho. Minha menstruação não desceu ainda. É claro que eu estou grávida, porém este não é o momento de fazer o anúncio. Vou deixar a poeira baixar.

DIA 13: Acordei virada num trapo. Estou me sentindo mal. Fingi que tudo estava calmo e me vi obrigada a comer um pedaço de pão. Meu estômago revirou e fui me deitar de novo. Não vomitei, mas dormi o dia inteiro. Só acordei de novo e engoli três maçãs, quase sem mastigar. Dormi de novo e sonhei com uma lata de doce de leite. Que maldade.

Dia 14: Ouvi meus pais cochichando. Parece que querem me internar. Vão descobrir minha gravidez. Será que vou engordar muito nestes noves meses? Estou me sentindo tão mal... eu não quero comer... eu quero ser magrinha para sempre... sonhava em ser uma modelo famosa... mas não existem modelos gordas e nem grávidas e gordas... hoje me olhei no espelho e nem me reconheci... puxa, o que eu fiz comigo?... e agora?... não tenho nem forças para escrever direito, tudo está rodando... me sinto tão fraca... por favor, alguém me ajude... eu não quero mor...

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 10/01/2009
Código do texto: T1378106