Conversas na livraria café sobre anjos, sonho e magia.

Andrei estava sentado na mesa da livraria café lendo alguma coisa que descobrira entre os muitos livros do andar de baixo; minutos depois, chegaram junto a ele, Sulivam, seu melhor amigo; Verônica noiva de Sulivam e Beatriz, sua namorada.

_O que está fazendo? _ perguntou Beatriz.

Andrei repousou o pequeno livro sobre a mesa, e com uma expressão de felicidade no rosto se levantou para recebê-los.

_ Lendo um pouco para passar o tempo. _ respondeu após beijar sua bela namorada.

Em seguida cumprimentou Verônica e seu bom e velho amigo com um firme e cordial aperto de mãos.

Cada qual puxou uma cadeira e tomou assento.

Do lugar onde a mesa na qual os quatro estavam sentados eles podiam ver praticamente toda a movimentação das pessoas que entravam na livraria e se movimentavam por ela no andar inferior; era possível ver a grande porta de vidro, as vitrines da frente e até mesmo parte da rua.

_ Foi aqui que promovi o lançamento de um dos meus livros._ relembrou Verônica._ gosto muito deste lugar.

_ E foi aqui que nos conhecemos._ respondeu Sulivam rapidamente.

Verônica era atualmente uma escritora em franca ascensão, seus três livros foram um verdadeiro sucesso, arrebanhando um público que até então mantinha-se longe de escritores iniciantes.

Seu primeiro grande sucesso fora um romance intitulado “A casa de Salomão” e tratava de um reduto freqüentado por seres chamados de nephilins vivendo no Rio de Janeiro e travando uma espécie de guerra santa particular contra anjos, espíritos e demônios. Seu segundo livro chamava-se “Guerra secreta” e trazia parte dos personagens de seu primeiro romance em mais uma aventura contra uma ameaça conhecida entre eles pelo nome de Iogael. Por fim o terceiro livro, aquele cuja noite de autógrafos foi realizada nesta mesma livraria, recebeu o nome de “Oberom”, segundo a própria autora, ele seria um dos poucos seres meio-anjo que ainda tentava combater as forças sombrias que estão tentando tomar o controle da cidade.

_ Li seus dois primeiros livros_ disse Andrei_ Mas acho que todos aqui devem tê-los lido.

Entusiasmada ela respondeu:

_ O que você achou?

_ Você escreve com muita autoridade, até parece que vivenciou realmente a estória; eu fiquei impressionado.

Sulivam que sempre se entusiasmava quando elogiavam sua noiva também entrou na conversa.

_ Este é o grande lance dos livros da verônica; ela passa a sensação de que realmente vivenciou tudo aquilo, não sei como faz, mas sei que fica muito bom.

_Mas realmente aconteceu._ protestou a escritora sorrindo.

Beatriz ficou um tempo parada sem falar nada, e limitou-se apenas a ver seus bons amigos conversando como crianças felizes. Depois também resolveu fazer parte da brincadeira.

_O que você está lendo Andrei? _ ela perguntou apontando para o pequeno livro sobre a mesa.

Ele pegou o livro de bolso e mostrou a todos.

_ Uma fábula sobre um leão e dois macacos; peguei só para passar o tempo.

_ E do que trata?

Andrei folheou o pequeno livro para achar a página na qual estava e sacando do bolso da camisa um pedaço de papel, marcou a página. Em seguida respondeu:

_ Ao que parece, fala sobre Fé.

Os três rebateram em uníssono:

_ Fé!!!

Todos sorriram de forma espontânea e gostosa.

_Eu adoro estes momentos em que passo com vocês_ Andrei revelou, e continuou_ Minha vida está um tanto quanto atarefada, mas estes momentos têm me dado força para continuar na batalha.

Ele segurava firme a mão de Beatriz enquanto falava e ela acariciava a mão dele. Beatriz estava atualmente trabalhando como gerente em uma loja de artigos femininos, sapatos bolsas e acessórios em um grande shopping da zona oeste do rio de janeiro, mas também estava cursando a faculdade de psicologia.

Verônica, era uma ex-publicitária que segundo ela mesma, após os acontecimentos que relatou em seu primeiro livro, foi demitida e passou a, descrever essas experiências; agora sua vida já estava relativamente se acertando, tanto profissionalmente como sentimentalmente.

_Seu sentimento é o mesmo que está em nossos corações_ correspondeu verônica _ não há nada melhor do que ter amigos com quem nós possamos conversar e dividir nossos anseios olhando nos olhos, tendo absoluta certeza de que tudo entre nós é verdade e amor.

Continuando verônica disse:

_É por esse motivo que Sulivam e eu temos uma surpresa para revelar em primeira mão.

Sulivam era um jovem, tal como todos que ali estavam, mas ele, assim como Andrei, possuía seu próprio negócio; ele possuía uma editora que trabalhava sobre demanda, ou seja, uma editora que trabalhava com contratos de prestação de serviço para escritores amadores, em sua maioria, que não utiliza estoque, ela vai produzindo os livros conforme a demanda de saída vai surgindo e com isso o preço pela publicação dos livros ficava bem accessível as pessoas com o desejo de realizar seu sonho de iniciar uma carreira como escritor. Esta editora era o sonho de Sulivam, já há muito tempo e dois anos atrás ele finalmente conseguiu, com a ajuda financeira de Andrei, colocar seu sonho em prática. O nome desse sonho era Editora Cruzeiro do sul. Agora ele estava ampliando o negócio e colocando uma pequena livraria com o mesmo nome.

_ Vamos nos casar_ disse Sulivam a seco, estampando um sorriso gigantesco na face.

Verônica e Beatriz deixaram escapar alguns gritinhos de felicidade; da mesma forma que o rosto de Andrei se iluminou com a notícia. Aquele era um dia que nenhum deles iria esquecer, estavam escrevendo a história; não a história do mundo, mas a história de suas vidas e isso era de uma importância brutal.

_ Isso requer uma comemoração, e das grandes. Quando será? _ perguntou Andrei.

_ No final do ano, já estamos começando a fazer os preparativos.

_ E onde vai ser a cerimônia?

Agora foi Verônica que respondeu:

_ Em um lugar que você conhece muito bem. Em Mesquita.

Todos eles já tinham morado naquele pequeno município da baixada fluminense, mas por vários motivos não estavam mais residindo lá, muito embora todos menos Andrei voltassem regularmente para ver e rever parentes, conhecidos e amigos feitos durante os longos anos da infância.

_Você ainda tem aquela casa lá?_ perguntou Beatriz para seu namorado.

_ Sim, é claro; aquela é uma bela casa, meus pais me deram ela, e quem sabe um dia eu não retorne para morar ali. Tenho ótimas lembranças daquela casa.

Os pais de Andrei eram separados e moravam em outros paises; seu pai atualmente morava em Berlim, na Alemanha; Russo de nascença; morou no Brasil por muito tempo casou-se e teve um único filho, porém mudou-se para a Alemanha depois da separação em busca de algo que o levasse a seu pai; avô de Andrei, que desaparecera misteriosamente durante a segunda guerra mundial, quando os soviéticos invadiram Berlim. Edgard Semak foi oficialmente reconhecido como morto em combate, mas o pai de Andrei, insistia em dizer que esta não era a verdade, costumava dizer que tinha sonhos com o pai.

Já a mãe dele morava atualmente em Lisboa, Portugal, era uma empresária bem sucedida do ramo do turismo e mudou seu escritório principal para Portugal com o propósito de captar turistas europeus para trazê-los ao Brasil; a proposta mostrou-se melhor do que o esperado e ela agora vivia lá permanentemente. Andrei era o responsável por uma das filiais da firma de turismo, no Rio de janeiro e vivia totalmente emancipado tanto financeiramente quanto legalmente. Durante o ano sempre marcavam algum tipo de reunião, ora na Europa, ora no Brasil.

_ Então por que você não vai lá fazer uma visita aos velhos conhecidos, e aproveita para ver como está o seu imóvel._Beatriz perguntou.

E Sulivam acompanhou:

_ E quanto àqueles seus antigos colegas; como era mesmo os nomes deles? Eram três.

_ Julian, Tyago e Luiz.

_ Exato; eles ainda estão por lá.

Andrei parou um tempo e pensou, como se uma torrente de lembranças o açoitassem naquela hora, em seguida disse:

_ São boas pessoas, durante alguns anos tempestuosos eles me ajudaram mais do que qualquer um que eu conheci, exeto é claro Beatriz.

Verônica interrompeu e informou que iria ao banheiro, na volta traria café para todos; Beatriz resolveu acompanhá-la.

Sós; Sulivam e Andrei se entreolharam mais friamente, como se uma cortina de fumaça tivesse se erguido ao redor deles; eram muito amigos e ambos quase podiam ouvir os pensamentos um do outro só com olhares, possuíam uma empatia que poucos irmãos tinham igual.

_ E quanto aos seus sonhos? _ perguntou Andrei_ você ainda os tem?

_ Tenho. No último que me lembro vi três gigantes conversando, discutindo na verdade, mas não pude ouvi-los. Apenas sei que um deles era o Vento.

_ Você e seus sonhos. _ ele riu._ E como vai o Cruzeiro do sul?

Agora quem riu abertamente foi Sulivam.

_ Bem_ respondeu.

_Você disse que viu o vento conversando com mais alguém, em seu sonho, isso é um tanto estranho não acha? O vento não conversa._ Andrei não costumava dar muita atenção a sonhos, mas não descria totalmente, sempre lembrava das palavras de seu pai com relação ao desaparecimento do avô: “dizem que seu avô morreu em combate, mas eu sonho com ele há anos, sonhos que me mostram uma terra sombria e gelada, sim, mas não é a morte; é outro lugar”.

Sulivam ponderou as palavras do amigo por segundos; disse:

_ Éolo.

Andrei não entendeu e Sulivam repetiu:

_ Éolo comandou os ventos durante muitos séculos, dizia-se que ele era o senhor dos outros ventos; o vento Norte, Bóreas, frio e violento; o vento Sul, Nótus, quente e formador de nuvens; o vento Leste, Eurus, criador de tempestades e o vento Oeste, Zéfiro, suave e agradável.

Andrei ficou abismado com aquilo que seu amigo estava falando.

_ Você acredita mesmo nestas coisas?_Perguntou.

_ É claro que acredito_ respondeu Sulivam rindo descontraidamente_ Tenho vários livros nas estantes de minha livraria nos quais seus autores dizem ter ido ao inferno ou ao céu e voltado; nestes livros as pessoas dizem que viram coisas que os outros que lá estiveram não viram, quase como Dante Alighieri. Isso sem falar nos livros da minha bela noiva que estão recheados de anjos e coisas assim.

_ Você já viu algum anjo?_ perguntou Sulivam, incisivo.

_ Temo que não.

As mulheres voltaram trazendo o café. Todos saboreavam aquele momento contando causos que ocorriam no trabalho e piadas que somente eles entendiam, riam a vontade com as bobagens que diziam e conversaram sobre filmes, livros, projetos de vida e uma infinidade de outras coisas.

Como sempre acontece quando se faz algo que dá prazer; o tempo escoou seus finos grãos de areia pela antiga ampulheta e as horas passaram tão rápido que os quatro amigos chegaram a se assustar ao verificar em que horário estavam.

_Vocês têm lido os jornais ultimamente? _perguntou Beatriz aos outros_ O que acham dessas aparições estranhas que estão sendo noticiadas?

Verônica olhou de forma incriminadora para seu noivo e tanto Andrei quanto Beatriz notaram.

_ Você está falando do “Cruzeiro do Sul?” _Perguntou Sulivam, de forma meio desconfiada_ é assim que os jornais o estão chamando.

_Sim _respondeu Bia_ dizem que ele vem aparecendo como um fantasma em vários pontos da cidade. Vocês viram o depoimento daquela pessoa que foi salva de um seqüestro por ele?

A verdade era que tanto os quatro amigos quanto a grande maioria da população na cidade estava querendo saber quem ou o que exatamente era aquele ser misterioso a quem a mídia apelidou por “cavaleiro da cruz”, “cruzeiro do sul” e “paladino”; era cada vez mais comum ouvir pessoas contando testemunhos dos mais esquisitos sobre esta figura. Salvamentos extraordinários eram uma constante nos relatos, homens envoltos em trajes cerimoniais e como se não bastasse; assombrações.

_ As pessoas andam muito estressadas com todos estes problemas do cotidiano, como violência; estão se sentindo abandonadas pelo poder público e estão materializando suas neuroses na figura de um defensor urbano envolto em vestes pretas que age sob a proteção das sombras. Ora! Aqui não é Gothan City._ Sulivam disse rindo e tentando convencer a si mesmo.

_ O mais estranho é que sua livraria possui o mesmo nome que esse paladino_ Apertou Andrei.

_ Coincidência.

_ O que você diz Verônica?

_ Não sei, ele pode ser um Nephelin, pode ser um anjo, um mago, um demônio, um homem ou nada disso. Só Deus sabe.

_Você acha mesmo que essa história de nephelins, anjos, magos e demônios é verdade? _ Disse Beatriz.

Verônica parou por um momento pensando como que ponderando se deveria ir adiante ou não.

_ Não acho, _ rebateu verônica_ tenho certeza absoluta, você pode não acreditar, mas já conversei com alguns deles antes de escrever meu livro e sei do que são capazes.

O modo como ela falou foi tão seguro que todos ali pensaram que não poderia estar inventando uma coisa como aquela pura e simplesmente para se promover como escritora; e ainda que fosse esse o caso ela contaria a verdade para seus amigos mais íntimos.

Verônica continuou:

_ Todas as pessoas possuem seus segredos; não sei se sou abençoada ou amaldiçoada por ter me envolvido em acontecimentos tão insólitos. Prefiro dizer que recebi um dom, algo especial, e, que relato tudo em meus livros e contos para que não se percam os acontecimentos e fatos envolvendo essas pessoas especiais.

Sulivam acompanhava tudo aquilo boquiaberto.

Ela continuava a falar:

_ Oberon costuma dizer que o poder celestial que corre nas veias dos nephelins é o suficiente para corrompê-los, talvez esse tal cruzeiro do sul seja um deles tentando se redimir de seus atos antigos ou buscando alguma redenção, é difícil especular.

_ Você sabe muito sobre estas coisas._ disse espantada Beatriz.

A conversa que começou com quatro pessoas tinha se resumido apenas as duas mulheres, os rapazes apenas se limitavam a observar e ouvir todas as indagações e afirmações que estavam sendo postas na mesa.

_Oberon fala muita coisa, mas noventa por cento do que ele diz, eu não compreendo; como por exemplo, quando ele fala sobre os domadores da natureza; ele os chama de dragões.

_ Dragões?

_ Sim, o domador de terremotos, dragão da terra; o domador de tornados, o dragão dos ventos; o domador das marés, dragão das águas e o domador da fúria das chamas, o dragão do fogo. Não sei ao certo o que são, se são magos, alquimistas, paranormais ou qualquer coisa do gênero.

_ Mas se você não entende, como é que escreve a respeito?

_ Eu só escrevo, os leitores são quem julgam. Eles entendem o que mais lhe convém.

Andrei se levantou da cadeira e fez sinal para sua namorada; a hora já estava mais do que extrapolada, precisava voltar para casa e deixar Beatriz em seu apartamento antes.

_ Agradeço a todos vocês meus queridos amigos, por atenderem ao meu convite de passarmos uma tarde agradável de conversas e memórias neste lugar, mas precisamos ir.

Verônica e Sulivam também se levantaram os rapazes, velhos amigos estreitando ainda mais os laços que os unia, deram as mãos num aperto cordial, respeitoso e firme; ambos sorriram. As moças se abraçaram momentaneamente comemorando mais do que aquele encontro; comemoraram também o recém firmado compromisso entre Verônica e Sulivam.

_Quando vamos nos reunir novamente?_Perguntou Bia.

Todos se entreolharam e Andrei disse:

_ Na próxima semana, marcaremos alguma coisa.

Ao passo que verônica rebateu com um humor acido:

_ Até lá, fiquem de olho nos noticiários e jornais, há algo muito grande acontecendo no Rio de Janeiro e tem alguma ligação com anjos, sonhos e magia. Ainda vamos ver coisas extraordinárias.

Luiz Cézar da Silva
Enviado por Luiz Cézar da Silva em 11/01/2009
Código do texto: T1379430
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