A janela

Um dia abri a janela e vi a rua onde costumava brincar, a árvore em que eu subia, logo à frente. As latas que serviam de traves para nosso jogo de futebol. Pude sentir o sol morno que trazia luz para as brincadeiras e a árvore, a sombra para nosso descanso. Lá também estavam os amigos.

Outro dia, abri a mesma janela. As mesmas coisas estavam lá. Mas parece que não eram mais pra mim. Outros meninos e meninas ali estavam. Deixei a janela aberta para que o ar doce da manhã entrasse. Fui ao trabalho. A noite, que até pouco tempo era dormida, hoje tem o brilho romântico do luar.

Ontem abri, apressado, a janela, não vi nada lá fora. Apenas o calor insuportável fez aumentar minha impaciência e ansiedade. Tinha uma família que dependia de mim. O tempo de recessão. Saí apressado. Não houve tempo para o beijo na mulher e nas crianças. Quando os vi dormindo, passou-me rápido, como um flash, algo como um sonho de como seria quando crescessem. A pressa dissipou tudo rapidamente.

Hoje abri a janela, a mesma janela, que por setenta anos venho abrindo todas as manhãs. A árvore, o sol, a sombra. Estava tudo lá. Os amigos, as amigas.....bem nem todos. Alguns haviam se mudado, outros já não estavam mais entre nós. Percebo o mesmo sonho de criança querendo me assaltar. Como um flash dissipa-se novamente quando vejo um menino e uma menina correndo para sob a árvore e gritando :

-Vovô, venha logo.

-Vovô, venha brincar com a gente.

Me desculpe. Não posso continuar, agora, essa história. Meus netos estão me chamando para brincar. Até outro dia....quem sabe. Talvez amanhã, se eu ainda abrir essa janela, eu continue a contar... Mas hoje não: - Vovô já vai crianças, Vovô já vai.....

Arnaldo Jose Cesar
Enviado por Arnaldo Jose Cesar em 19/04/2006
Reeditado em 19/04/2006
Código do texto: T141930