Coisas que devem ser ditas na vida

Pergunto se ela tem alguma idéia sobre isso tudo.

Ter uma idéia já é uma começo – ela diz.

Não quero voltar. Ver todas aquelas pessoas de novo, seguir a mesma rotina, preocupar-me se estou ficando mais burro.

Quero ser livre – digo

Que coisa idiota de se dizer. Ninguém é livre. Estou alienado a tudo que está a meu redor. Tenho que tentar manter tudo sob controle. Se algo escapar, adeus “cabeça”.

Mas me criticam por manter tudo sob controle.

Mas me criticam por não saber o que fazer.

Acordei hoje desanimado. Não fui trabalhar e mandei um foda-se para minha contas.

Só queria dormir.

Comer e dormir. Isso é liberdade para mim.

Parece tão simples, tão fácil. Mas não é.

Aprisionado na vida que construí.

Ninguém me disse que as coisas iam ser assim. Se eu soubesse, não perdia meu tempo estudando ou planejando um futuro. Eu comeria e dormiria.

Tarde de mais.

Quando sua mãe te olha com aquele olhar meigo, diz palavras de agrado e fica tão doce com você que nem parece sua mãe; significa que o contrato acabou, seus pais não tem mais nenhuma responsabilidade sobre você, um problema a menos na vida deles.

Agora só recebo telefonemas de “Olá”.

Tudo só pode se resolver se eu ganhar na mega-sena. A probabilidade de eu me resolver é de uma em dez milhões.

Enquanto isso, vou fazer relatórios, usar um crachá e explicar todo dia o que eu faço para pessoas que já falei dez milhões de vezes o que eu faço - ou que não sabem ler o que está escrito no meu crachá.

Toda aquela esperança, aquele animo juvenil, aquela vontade foram embora.

Quando se aproxima dos 30 anos essas coisas acontecem. A vida vai ficando cada vez mais sem surpresas e a tendência é entender que tudo que faz não tem significado algum.

Eu já fiz relatórios com 300 páginas. Pesquisas exaustivas. Negociações bem sucedidas. Mas agora eu só uso meu crachá... e tenho que tentar entender por que as pessoas se matam.

A cada reunião de trabalho eu tenho que inventar algo que eles gostariam de ouvir, porém, minha vontade é falar que eles se mataram e foda-se.

As pessoas acham que o CVV possui psicólogos especialista para conversar com elas, mas a verdade é que são meninas universitárias com belos corpos.

Nas reuniões do CVV, eu falo somente o que eles querem ouvir... e me preocupo se alguma menina universitárias com belo corpo está ali para ouvir... ou ler no meu crachá que sou supervisor.

Tornou-se tão chato e vergonhoso a conquista que agora é preciso ter algum papel social para conquistar alguém. Você não precisa falar uma palavra, basta ter aquilo que elas querem que você tenha.

Vai começar tudo outra vez. O filme sempre rebobinando e começando. As pessoas dizem que tudo é novo, tudo no mundo é inovador, cada dia é um salto para novas informações, novas tecnologias, novas perspectivas, tudo novo... menos a vida delas.

Meu terceiro hamster está morrendo, sinto mais tristeza em vê-la partir do que qualquer outra pessoa. É mentira, não sinto nada pra falar a verdade.

Terceira morte e nenhuma lágrima.

Á 3 semanas estava chorando e hoje já sou uma pedra. O que está acontecendo com minha cabeça? Onde está minha cabeça?

Hoje sou um, amanhã outro. Moldei-me tanto ao que as pessoas desejavam que agora eu me perdi totalmente.

Talvez amanhã serei amoroso, depois de amanhã nervoso e no sábado mato alguém.

Minha vida e meu “eu´s”

Não posso garantir nada a você. - Digo.

Não precisa. Nos seus olhos eu vejo a verdade, vejo quem você é. - ela diz.

Não! Pára tudo. Quando alguém saber realmente quem você é e ficar te olhando por mais de 1 minuto, alguma coisa está errada.

Eu não quero saber quem eu sou. Não quero ser eu. Não quero ter poder. Não quero saber lidar com a vida. Não quero ser o melhor filho do mundo. Não quero ser o melhor de todos.

Eu só quero comer e dormir. É mais fácil eu fundar uma milícia, tomar uma parte de terra do meu país e fundar nesse espaço o meu país do que apenas viver comendo e dormindo.

Então por favor, não me diga quem eu sou. Pois se você quer saber, dentro de mim não se encontra nada.

Mentirosa!

Plínio Platus
Enviado por Plínio Platus em 19/02/2009
Reeditado em 03/04/2009
Código do texto: T1448150