Tá lá o corpo estendido no chão... ou seriam corpos?




          Era o primeiro dia do vigilante naquela agência bancária. Ao saber que estava participando de um assalto, lembrou-se dos tempos de nenê e fez xixi nas calças. Só que já não usava fralda há muito, muito tempo. 
          A trainee de gerente atrapalhou-se toda ao ver as armas dos assaltantes que acionou o alarme debaixo da mesa do gerente, de tanto que tremiam suas pernas.           
          A ação dos meliantes foi rápida. Encheram sacos e mais sacos com o dinheiro daquele último dia útil do mês.
Mas apesar da velocidade deles, a polícia, acionada pelo alarme, cercou a agência com um aparato nunca visto. Dezenas de veículos, sirenes a mil, portas batendo forte.
     O tradicional: “Rendam-se, vocês estão cercados!” foi recebido com ironia pelo homem que parecia ser o líder do trio de assaltantes.
     - Temos reféns aqui, queremos um carro para fugir com o dinheiro e uma boa dianteira!
     Os policiais se entreolharam e esboçaram um sorriso. Blefe dos bandidos. Puro blefe.
     Mas a coisa começou a se complicar quando o novo ultimato foi berrado pelo agora líder confesso do trio:
     - Vocês têm quinze minutos para decidir... A cada quinze minutos iremos matar um dos reféns.
     Os primeiros quinze minutos foram cruciais. O suposto blefe tornou-se dura realidade. Ouviu-se um tiro. Um corpo foi arrastado para a porta da agência. Os bandidos cumpriam a palavra.
     E as autoridades? O prefeito coçou a cabeça apavorado com a repercussão que poderia causar até a sua não reeleição. Chamou o comandante da guarnição pelo celular, que se esquivou dizendo que cumpriria ordens do governador ou do seu superior na Polícia Militar. O Secretário da Segurança lavou as mãos e passou o sabonete para o governador, que não se preocupava com sua reeleição, mas sim com uma possível candidatura a presidente da República ou, no mínimo, senador.
     Os trâmites foram tão demorados que logo se ouviu outro estampido e mais um corpo foi depositado na calçada da agência.
     O prefeito não se fez de rogado. Mandou liberar um carro para os bandidos, aceitando as condições impostas.
     Numa operação relâmpago, a camionete da Prefeitura estacionou na calçada. Os bandidos entraram nela seguidos de dois reféns, os corpos das duas vítimas, partindo célere... com o dinheiro do banco junto.
Alguns populares juravam que viram os “mortos” se levantarem e caminharem para dentro do veículo. Foram chamados de lunáticos.
     Os policiais, a princípio, aliviados com a solução mágica só foram se dar conta que, na verdade, haviam caído num golpe.
     Reféns, “mortos” e assaltantes era uma coisa só: uma quadrilha chefiada por um ator considerado um canastrão, que havia descoberto que na polícia não existiam críticos de arte, apenas meros espectadores. A encenação seria reprisada “ad nauseam” em outros palcos, ou melhor, cidades.
     Em tempo, o prefeito daquela cidade perdeu a reeleição.
Roberto Bordin
Enviado por Roberto Bordin em 18/03/2009
Código do texto: T1492568
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