CONSCIÊNCIA

- Não, não mesmo cara.

Resmungou Jorge enquanto ouvia os lábios tragarem o ar com dificuldade. Talvez fosse a mascara – que um dia foi uma das perna da meia-calça de sua irmã. As mãos trêmulas, inquietantes. Mas era necessário silêncio. Sentiu a máscara molhar na região da boca, sensação gélida, que apenas causava mais desconforto diante do calor do momento.

- Cala a boca maluco, pega logo a parada! Anda!

Sussurrava Washington, enquanto revirava um enorme armário antigo. Demonstrava ainda mais irritação. Mas Jorge nem mesmo parecia vê-lo, estava dentro de si, assistindo a consciência que agora era surrada sem qualquer pena.

- não, não cara. Não vou mesmo... é pecado!

Sussurrou mais uma vez. Sussurro longo e desesperador.

- Que...que pecado que! Cala essa boca, filá da puta!! Você é ou não é bandido, heim!?

Jorge se fez a pergunta. E apenas imaginou algo parecido com o presídio Carumbé. Depois pensou em como o inferno poderia ser um lugar ruim. Depois olhou Washington. Com aquela meia-calça deformando seu rosto, tornando-o mais assustador do que imaginava que poderia parecer – nunca havia se quer notado isso. Acima do comparsa estava Jesus, preso a cruz e com seus olhos exaustos direto para ele. Jorge.

- Anda cara, mas que porra! Pega logo essa merda!!!

- Não!

Gritou Jorge por fim. O som ricocheteou por toda a sala, ecoando sua voz fina e amendrontada pela saleta. Washington aproximou-se rápido, e deu-lhe um tapa na cara.

- Qual é Jorginho! Ta maluco cara!

A porta se abriu, era um homem vestido de batina, que com os olhos arregalados fez o sinal da cruz. Jorge ajoelhou-se e acompanhou os sinais do Padre. Washington pulou uma janela e correu.

Hoje Washington visita Jorge todos os domingos, sempre com um pacote de cigarros de baixo do braço.