Diabo a Quatro

Conheço essas coisas, não, seu padre. Deus me livre! Sou mulher direita. Se macho olha, viro a cara. Se marido fala, obedeço. E foi assim que casei de branco. Por que homem bom a gente agradece, espera cheirosa, capricha na mistura. Lembro das coisas bonitas que o senhor falou na nossa cerimônia. A família chorando e levantando as mãos e cantando e amém. Graças a Deus! Edimilson é de bem, sim, mas prefere fazer culto em casa. Por isso faltei à missa ontem. Queria prestigiar a fé do meu homem. Nem pisei no tapete da entrada e já ouvi a reza. Sabe aquela voz grossa, seu padre, que chega a tremer a perna? Ela veio crescendo, misturando. Era Deus pra lá, Deus pra já. Um coro de macho, o tinhoso saindo do corpo. Coisa linda de ouvir. Nem me aguentei. Abri a porta, levantei os braços e gritei o nome do Senhor! E quer saber? Recebi a benção de ver meu Edimilson arrancando todos os pecados da carne do capeta. Graças a Deus!

|Conto escrito para a Oficina Narrativas Breves, do Marcelino Freire|

Felipe Valério
Enviado por Felipe Valério em 19/03/2009
Reeditado em 19/03/2009
Código do texto: T1494787
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