MOPPY

MOPPY

Quando residia em Curitiba, um dos meus passatempos favoritos era caminhar pela manhã, quando o tempo permitia é claro.

Numa segunda-feira, durante uma dessas caminhadas, quando me encontrava nas proximidades da rodoviária velha, me deparei com um aviário. Fazia tempo que eu não entrava num aviário, por isso me aproximei para dar uma olhada. Lá dentro, em gaiolas de vários tipos, havia perus, galinhas, pássaros, marrecos, coelhos e três cãezinhos. Alojados em uma pequena gaiola que seria mais apropriada para um papagaio, talvez, estavam dois filhotes de Cocker Spaniel e uma cadelinha preta de raça indefinida. Os Cockers, marronzinhos e esnobes olharam-me e, nem te ligo. A cadelinha, ao contrário, pareceu feliz em me ver. Coloquei o dedo entre as grades da gaiola e fiz-lhe um afago, ao qual ela retribuiu abanando o rabinho. Fiquei ali por mais alguns instantes e fui embora, afinal, já estava quase na hora do almoço.

Na manhã seguinte, depois de tomar um cafezinho no Mercado Municipal, resolvi ir visitar minha nova amiga no tal aviário. Fiquei pensando que nome lhe daria se ela fosse minha e lembrei que quando era criança, tive um cachorrinho preto que se chamava Moppy. É um bom nome, pensei, e decidi que, para mim, ela se chamaria Moppy. Novamente no aviário, depois de brincar um pouquinho com a Moppy, fiquei reparando nas péssimas condições em que aqueles animais viviam. A água de todos eles estava suja; o chão das gaiolas não era forrado o que, provavelmente, lhes causava dores nas patas ao pisarem diretamente sobre os arames. Creio que é por isso que a maioria deles permanece deitada. Fiquei um tanto quanto revoltado e voltei para casa. Na quarta-feira amanheceu chovendo e resolvi não sair. Fiquei só imaginando se a Moppy estaria bem. Quinta-feira o tempo melhorou. Roubei um punhadinho da ração da Morena e da Brahma, que são as duas cadelas que tenho em casa e fui caminhar. Depois de tomar meu café no Mercado, rumei para o aviário. Aproximei-me da gaiola da Moppy e, sem que o dono visse, enfiei os grãos de ração pelos vãos das grades, os quais foram avidamente devorados pela minha amiga e, para minha surpresa, pelos Cockers também. Retornando para casa, pensei seriamente em comprar a Moppy, mas, como as minhas cadelas são extremamente ciumentas, isso certamente me traria problemas, além do mais, minha mulher não quer nem saber de ter mais um cãozinho em casa, pelo menos por enquanto, segundo ela.

Na sexta-feira, retornando do passeio fui ver minha amiga, a qual, por sinal, estava sozinha na gaiola. Perguntei ao dono o que havia acontecido aos Cockers e ele me disse que haviam sido vendidos e que só restara aquela “porcaria” ali, que ninguém quer. Fiquei ofendido com a insensibilidade daquele homem, pois, afinal, pedigree não é atestado de bom caráter para cachorro nenhum. Fiz uns afagos na Moppy e percebi que seus olhos estavam meio opacos e ela já não estava tão contente como das vezes anteriores. Solidão, pensei, tenho que dar um jeito nisso. Decidi, então, que até segunda-feira eu resolveria o problema, mesmo que isso me custasse alguns dissabores com a Regina. Tinha a certeza de que, depois da bronca, ela se apegaria ao animalzinho como acontecera quando levei para casa a Morena e a Brahma.

Sábado de manhã, tomando café no Mercado, encontrei um amigo que há muito tempo não via. Ficamos batendo papo e, quando dei pelas horas, vi que estava atrasado. Despedi-me do amigo e corri para o aviário, mas, quando lá cheguei, já estavam abaixando as portas. Fazia um calor insuportável naquele dia e fiquei me maldizendo por não ter me decidido antes a tirar a Moppy de lá. Passei a tarde de sábado e o domingo todo aflito, mas prometi a mim mesmo que na segunda-feira, custasse o que custasse, eu traria a Moppy para casa.

Acordei bem cedo na segunda, parecia uma criança esperando o presente de aniversário. Mal deu oito horas e eu já estava plantado em frente ao aviário. Para disfarçar, atravessei a rua e fui tomar um café no bar em frente. Vi quando o dono chegou e abriu as portas. Tomei o café, fumei um cigarro e, coração aos pulos, entrei no aviário. Ao olhar para a gaiola da Moppy, senti um choque. Estava vazia. Perguntei a um rapaz que estava dando comida aos animais o que havia acontecido com a cachorrinha preta.

- Aquela ali? Perguntou ele, apontando com o queixo. Não pude acreditar no que via. Jogada num canto, encima de um saco de estopa, jazia o corpo da minha amiguinha.

- O que aconteceu com ela? Perguntei. Sei lá, foi a resposta.

- Acho que morreu de calor e de sede. Quando cheguei, o pote de água estava virado.

Senti uma mistura de ódio e frustração por não tê-la tirado de lá enquanto havia tempo. Agora era tarde demais.

Voltei para casa me xingando em pensamentos e a todas as pessoas que, insensíveis, passam por esses aviários sem se preocuparem com as condições com que esses animais são mantidos. Todo mundo deveria fiscalizar isso e, quando encontrasse algum sinal de maus tratos o que se deveria fazer era telefonar para a Sociedade Protetora dos Animais e denunciar o fato. Eu, de minha parte, prometo que, se algum dia conversar com algum vereador desta cidade, pedirei a ele que se faça um projeto de lei para que se proíbas a venda de cachorrinhos em aviários.

É isso. Adeus Moppy, desculpe...

ee.

Elias Ellan
Enviado por Elias Ellan em 24/03/2009
Código do texto: T1502997
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