Sobre todas as cores

Anderson Silva era um sujeito metódico na hora de organizar suas roupas no armário.As camisetas, em rolinhos, faziam um degra de cores; as camisas coloridas eram separadas cuidadosamente das brancas.Nem meias e cuecas escapavam da organização: havia gavetas para as mais claras e mais escuras.Se a empregada, por descuido pusesse uma peça fora dessa engenhosa ordem, ele mudava de cor: ficava roxo de raiva.
 
Soraia, sua esposa, não era tão organizada assim.No início achou excelente ter um companheiro tão cuidadoso com as coisas, mas aos poucos, o que era uma virtude passou a ser um empecilho no relacionamento.Gradativamente, a mania de Anderson foi tomando a casa toda: queria dispor melhor as latas na dispensa, os xampus no gabinete do banheiro, as roupas da esposa no guarda-roupa.E pior: não admitia erros, ser contrariado em sua obsessão pelas cores dos objetos.
 
O que libertava Soraia desse enfastio, eram suas constantes viagens a trabalho.
 
E foi ao voltar prematuramente de uma delas, é que encontrou o marido nu na cama com outras quatro mulheres: uma ruiva, uma mulata, uma loura e uma morena.Estavam tão distraídos em jogos sexuais que nem notaram que Soraia os espiava pela fresta da porta.
 
E Anderson, que era tão comedido em relação às cores, morreu carbonizado, pretinho da silva.

 
(Maria Fernandes Shu - 01 de abril de 2009)
Maria SHU
Enviado por Maria SHU em 01/04/2009
Reeditado em 01/04/2009
Código do texto: T1517177
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