O DISPARATE

Era uma jovem alta e bonita, loira de olhos bem azuis, tímida, que fazia jus ao seu nome: Florisbella. Seus pais eram portugueses, oriundos de uma cidadezinha do interior de Portugal, e residentes no Bairro onde moro, há muitos anos desde quando ainda eram jovens.

Certo dia, Florisbella apareceu no escritório de Contabilidade onde eu trabalhava, acompanhada de uma funcionária de nome Maria de Fátima, para pedir uma vaga para trabalhar. Vindo o pedido de uma excelente funcionária, o patrão, o Sr. Gilberto prontamente deu-lhe a oportunidade de trabalho.

Depois de admitida e do período de adaptação, ela começou a fazer rápidamente amizade com os colegas do escritório, mas, com um pouco de reservas com os rapazes.Certa tarde ela confidenciou com uma colega, que namorava firme com João, motorista de ônibus da única empresa que oficialmente trafegava em nosso Bairro.

Florisbella sempre muito quietinha, às vezes falava do namoro com a amiga que a ajudara a arranjar o emprego, e era da mesma Igreja Católica.Disse-lhe que o seu noivo era muito mais velho do que ela e muito ciumento, mas, que gostava dele assim mesmo...

Em pouco tempo os jovens Florisbella e João ficaram noivos. E em menos tempo ainda, o casamento foi marcado para um sábado de maio, às 18 horas, na Igreja de Nossa Srª Aparecida. Sua amiga Maria de Fátima fora convidada para ser a madrinha e os colegas do escritório, o patrão, todos foram convidados.

E chegou o grande dia do casamento. Estávamos todos na Igreja: o patrão, os colegas, os parentes do noivo e da noiva. Igreja cheia de convidados. O noivo chegou e em seguida a noiva. Ela quase não se atrasou, apenas uns dez ou quinze minutos...E o casamento transcorreu em perfeita harmonia!

Terminada a cerimônia, fomos para a Festa de casamento na residência da noiva, numa varanda bem grande, nos fundos da casa, que estava toda enfeitada, com mesas ornamentadas, com toalhas e lembrancinhas; painel onde ficava o bolo e os docinhos da festa parecendo um grande caramanchão de flores. E tudo combinando no tom das flores...Os garçons a servir refrigerantes e os pratinhos à americana, que continham arroz branco, maionese, farofa, frango desfiado e fatias de pernil, salgadinhos variados, servido com fartura aos convidados.

E tudo ía muito bem. O noivo cumprimentava as pessoas normalmente. Já a noiva respondia timidamente aos cumprimentos, dos homens, principalmente, meio encolhida, talvez para não olhar no rosto deles. Talvez se comportasse assim, por causa dos ciúmes do noivo...Tiraram as fotos com as famílias ao redor do bolo, com os amigos mais chegados, até que a organizadora da festa comunicou a todos, que em breve iria ser cortado o bolo dos noivos!

Todas as atenções foram voltadas para a mesa! O casal juntinho, os pais da noiva, os pais do noivo, e após as fotos de família, foi tirado a foto do bolo de três andares, muito bem decorado. Sob aplauso, a noiva corta o primeiro pedaço. E todos muito atentos aos gestos delicados da jovenzinha Florisbella, que carinhosamente oferece o primeiro pedaço do bolo para sua querida mãezinha, dona Maria José.

Quando ela passa às mãos de sua mãe a fatia do bolo, sobre o guardanapo rendado, o noivo interrompe com a voz bem alta, ao gesto da noiva: “Isto está errado!...O primeiro pedaço de bolo tem que ser meu, do noivo! Se não me deu o primeiro pedaço de bolo, é porque não me ama...”. E grosseiramente deu um empurrão na noiva e saiu de perto do bolo. E completou: “Não quero saber mais de você! É essa a sua prova de amor para comigo? O maior amor de sua vida agora sou eu! Você pertencia à sua mãe antes de casar comigo. Agora, sou o seu marido!... Você me pertence! E tudo tem que ser para mim, primeiro entendeu?”. E saiu empurrando as cadeiras e atropelando as pessoas, possesso de ira, depois deste argumento nada convincente, e repugnante à razão das pessoas presentes, que olhavam estarrecidos aquele DISPARATE do noivo”.

Depois daquele instante, Maria de Fátima, a madrinha da noiva no casamento, cautelosamente, levantou-se e foi falar com o noivo que saíra batendo o portão da casa. Pediu-lhe que voltasse. Que não levasse a mal a atitude da noiva. A mãe da noiva também foi ao seu encontro para lhe entregar o pedaço do bolo tão disputado! A mãe do noivo também foi ao seu encontro, para convencê-lo a pedir desculpas pelo vexame. Mas, ele estava irredutível e saiu da festa. A noiva chorava copiosamente! Inconsolável, pensando no que fizera e que perdera de vez o casamento antes de concretizado...Repartiram o bolo e os convidados foram todos saindo, indo embora de vez, comentando sobre o comportamento ridículo do noivo.

Quando todos os convidados foram embora e só ficaram presentes os pais dos noivos, o noivo chegou como se nada houvesse acontecido. Aproximou-se da noiva, que o abraçou pedindo-lhe desculpas...E dali os noivos foram para a lua- de- mel.

Como foi a convivência do casal, nada mais soubemos, pois o marido tirou Florisbela do emprego, com a seguinte frase, dita ao meu patrão: “Minha mulher não precisa trabalhar fora. Eu sou o homem da casa!...”.

Florisbella tem uma filha. Ela é uma santa mulher, pois mora com o seu marido João do ônibus até hoje...

Autora: Iraí Verdan

evlinday2000@yahoo.com.br

Magé, 30 de março de 2009.

Iraí Verdan
Enviado por Iraí Verdan em 03/04/2009
Reeditado em 05/04/2009
Código do texto: T1520731