Cena para um dia de chuva

De repente um deles aterrissou na sua testa e escorreu pela face. Logo mais eram dois e mais dois e mais vários. Então ele, que estava sentado exercitando a sua maior habilidade, não fazer nada, bobo que era, pensando na vida, de repente fora avisado por aqueles pingos de chuva que teria que dar um intervalo nas suas reflexões, anúncio da chuva que perto já vinha. Quis teimar com os pingos pensando que era alarme falso, como se eles fossem moleques a lhe pregar uma peça, daquelas de apertar a campainha e sair correndo. Mas daí a pouco viu que não, os pingos haviam sido sinceros com ele, até um pouco amigos por correrem na frente dos outros para lhe avisar. Pegou o banco e foi para baixo de uma cobertura observar os iguais daqueles que lhe fizeram a primeira boa ação do dia. Agradeceu a chuva, o frescor, o vento, o cheiro de terra molhada do quintal. Em pouco tempo viu-se envolvido nas sensações que a chuva provoca ao cair sobre o telhado, a terra, o asfalto. O som do encontro dos pingos com a superfície, com o telhado, invadia os ouvidos, enquanto os olhos se enchiam daquela visão maravilhosa da água caindo do céu e se espalhando pelo chão. Tanto olhou que em um dado momento resolveu que a vida era mais que pensar e observar. Então, de braços abertos, correu para a chuva para dar aos outros sentidos também a graça de um momento pleno.