SÓ UM DEDINHO DE PROSA...

     E a menina tinha um jeitinho para contar estórias. Por certo vivera muitas experiências e talvez nem fosse tão menina assim. Mas esbanjava energia e vitalidade! Chegava com seu sorriso largo e ia cativando. Não havia quem não se chegasse. Fazia de cada lugar onde passava uma festa!
     Alguém já havia me falado dela, mas eu tinha mesmo que ver. Porque falar dela é uma coisa e ver é o mesmo que pegar um pote daquele doce caseiro bem gostoso e lamber até se fartar e depois ficar com aquele gosto bom na boca, de uma coisa que você jamais vai esquecer!
     Foi essa a sensação que tive dela. E o gosto bom na boca, que me lembrou o doce, na verdade, eu queria mesmo era roubar um beijo daquela boca carnuda! Mas eu não podia ser muito afoito, afinal, "tava" conhecendo a moça naquele dia!
     Fiquei de longe, só na espreita. Quem sabe ela fizesse a gentileza de me dirigir o olhar, pelo menos uma vez que fosse, eu sentado alí, duas mesas depois da dela.
     Pediu uma cerveja e algo para beliscar. E foi logo falando que a demora era pouca, que ia só dar um dedinho de prosa, porque havia trazido muita coisa do serviço para terminar em casa.
     Percebi que tinha que ser rápido e me aproximar. Não ia deixar a moça sair só com aquele dedinho de prosa. Não ela, que era acostumada a prosear por longas horas, sempre naquele cantinho.
     Pensei em me oferecer para ajudá-la no serviço que trouxe para fazer em casa, mas ia parecer abusado.
     Por incrivel que pareça eu, matuto velho, de fácil lábia com a mulherada, estava embasbacado por aquela mulher,  entregue, sem nenhuma estratégia! Como um bobo da corte, completamente sem ação!
     Fiquei ali, parado. Pedi também uma cerveja. Quem sabe eu me animava e pensava em alguma forma de abordar que fosse elegante e que impressionasse a moça. Sim, porque eu fui ali só para conhecê-la e queria marcar presença.
     Percebi que ela era amiga da dona da lanchonete, pois conversavam animadamente.      Esta mesma senhora me serviu a cerveja e foi sentar-se com ela, para continuarem "o dedinho de prosa".
     Ai como eu queria esse "dedinho".      Tava ali, abandonado numa mesa de bar, mendigando um pouquinho de atenção.
     Vi que ela contava muitas histórias para a mulher do bar. Mas eu já sabia da sua fama de "boa de prosa". Gesticulava, ria e em alguns momentos parecia me dirigir o olhar, mas quando eu correspondia, ela discretamente desviava.
     Resolvi que ia tomar uma atitude.      Mulher alguma nesse mundo havia me deixado daquela maneira! Me levantei e fui até a mesa onde ela estava e pedi à dona do bar que fechasse a minha conta.
     Só havia consumido uma cerveja e paguei com uma nota de cinquenta reais justamente para dificultar o troco.      Enquanto a dona da lanchonete saiu para trocar o dinheiro, eu fiquei sozinho, em pé, parado na frente da moça.
     Ela me olhou de cima embaixo e depois disse com a maior tranquilidade: senta aí moço, vamos bater um dedinho de prosa, enquanto o seu troco não vem...
     Eu nem queria mais dinheiro, nem troco, nem nada. Queria mesmo era esse "dedinho de prosa" com a moça mais bonita daquelas bandas!
     E as histórias que ela me contou...
     Ah, outro dia eu te conto!