Ela

Já é quase meia noite. Estou a esperá-la desde as dez. O vôo deve ter atrasado. Mas sei que ela vem. Prometeu-me. Já faz um ano que não nos vemos e desde então só a tenho amado mais. Como temo que ela já não me corresponda! E esta maldita e tão silenciosa campainha? Castigando-me com sua discrição. Ânsia maldita que me corrói comparando-se ao meu amor. O tempo passa e nada da campainha 'apresentar-se'.

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Finalmente! É ela! Que vontade tenho de beijar esta maravilha científica e arrombar a porta que se opõe à minha felicidade. Corri para a porta e destranquei a malvada, escancarando-a e ficando finalmente de frente ao paraíso. Ela soltou um sorriso ao ver-me tão exasperado. Não pude conter-me e me joguei nos braços dela. Em seguida caí de joelhos e beijei-lhe o torso. Ela segurou minha cabea e fez-me olhar o seu rosto. Sorria singelamente e pediu que eu ficasse de pé. Peguei as malas tímidas que ainda estavam fora do apartamento e trouxe-as para dentro. Ela me seguiu até a sala e esparramou-se no sofá. Alegou estar exausta da viagem. A minha vontade era deitar-me no colo dela e perguntar tudo que tinha feito todo esse tempo que estivemos distante. Foi penoso para mim, mas resolvi esperar ao invés de invadi-la com minhas perguntas, para ela, desnecessárias. Ao menos pude observar-lhe durante o sono. Sentir o aroma que exalavam seus cabelos e admirar-me com a suavidade do seu rosto de criança adormecida.

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Acordei sentindo aquela respiração tranqüila batendo em meu rosto e pude lembrar da felicidade que era acordar cedo na manhã de domingo e ser invadido por uma enxurrada de carinhos.

Seu rosto não estava sorridente como o de costume, pelo contrário, ela estava séria e isso preocupou-me. Por que razão estaria de rosto fechado e feliz no resto do corpo? Isso apavorou-me demasiado.

Sentei ao seu lado e ela jogou as palavras que se amontoavam na sua garganta em cima de mim. Falou de todos os seus medos e de como tinha mudado nesse tempo todo e como temia que eu tivesse mudado tanto quanto ela. Falei-lhe que não se precipitasse, mesmo que tenhamos mudado junto com os tempos, deveríamos tentar ficar juntos. "Um grande amor não deve morrer assim".

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Tudo bem, agora chega. Se ela quiser ir embora, que se vá! Não vou mais tentar tê-la junto a mim. É estranho dizer que não a suporto enquanto ainda a amo. Ai maldita confusão! Maldita hora em que a conheci. Vou falar-lhe hoje! Ela vai embora hoje mesmo, se é isso que tanto quer!

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Casamento. Ela pediu-me em casamento. Nunca pensei que ela fosse fazer isso... Não a entendo.

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Acabou. Acordei e ela não estava mais aqui. Talvez tenha sido melhor assim. Para mim... e para ela. Pelo menos vou poder voltar a criar meus peixes e ouvir CAKE. Ela nunca gostou que eu ouvisse CAKE. Acho que vou colocar o CD agora...

Thais Gualberto
Enviado por Thais Gualberto em 06/07/2009
Código do texto: T1684507
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