Primeira vez

Tudo suscitava novidade no inicio da vida adulta.

Aos dezoito anos podemos dirigir, gozamos de maior liberdade de escolhas, assumimos atos e responsabilidades.

Era segunda-feira, quatorze de abril, de 1997, me dirigi ao alistamento militar.

Antes da aurora com ímpeto e curiosidade me coloca as portas da guarnição de recrutamento em Porto Alegre.

Parecíamos hierarquizados.

Fizemos fila, mesmo sem qualquer orientação.

Às sete horas e três minutos abrirão o portão. Entramos timidamente, se ouvia apenas os soldados, cabos e sargentos. Todas as frases eram ditas no imperativo. Direcionados a inspeção médica, de certa forma constrangedora, mais de duzentos rapazes nus sendo apalpados e analisados.

Para aumentar meu constrangimento observei uma oficial. Seria possível que a primeira mulher a me ver nu aos dezoito anos seria uma oficial mulher. Meu pânico findou-se com sua retirada da sala. Penso que apenas trazia nossos formulários, anteriormente preenchidos.

O exame era banal, mas o frio atípico daquela manhã de outono não. Lembro de tremer, bater o queixo. Ao longe, o médico finalmente me chama. Adentrei sua sala acompanhado de mais nove rapazes. O médico fez questão de ironizar nossos membros sexuais: a temperatura “agradável” não era motivo para tamanho encolhimento.

Passado e exame, fui encaminhado ao psicotécnico. Jogos, perguntas triviais, e um desenho. Desenhei da melhor forma possível. Creio que adoraram meu desenho, me encaminharam ao CPOR (Centro Preparação de Oficias da Reserva). Imediatamente percebi a deferência de todos por esse feito. Apenas tinha feito um desenho sem cor.

Indagado sobre a possibilidade de me dirigir ao CPOR até o final da tarde, expliquei que tinha um prévio compromisso.

Carregava o endereço do lugar no bolso.

Ao apresentar aonde iria ao oficial, este me cumprimentou exaltando a todos os presentes.

Senti alguns olhares de inveja. Apenas sorria.

Sai perto das onze horas.

Como costume caminhava do centro de Porto Alegre a minha casa a pé. Quase corria, pois tinha de almoçar e esperar a digestão, o tempo correto para minhas intenções.

Cheguei com a mesa posta, minha mãe duvidara de meu furor, meu pai a repreendia dizendo que com dezoito anos poderia fazer o que quisesse. Não estavam descontentes, me incentivavam.

Meu pai veio a meu quarto e disse que repousasse. Tinha de guardar minhas energias.

Passado quatro horas já estava de banho tomado, arrumado e sim perfumando.

Adoro colocar perfumes para demonstrar que estou feliz.

Penso que junto com o aroma transmita minha alegria.

Estava tenso.

Sai de casa.

No ônibus pensava quantos também teriam realizado esse desejo aos dezoito anos.

Observava tudo e todos, creio que perceberam minha euforia, retribuíam sorrindo.

Uma bela jovem ainda piscara para mim.

Novamente no bairro Centro da capital gaúcha.

Na porção histórica de minha cidade amada.

Prédios velhos, porém charmosos.

Ansioso entrei.

Dirigi-me a recepção.

Uma bela jovem pediu para aguardar ate ser chamado.

Dizia que as gurias estavam ocupadas.

Finalmente fui chamado.

Adentrei para sala, quarto, pois haviam várias camas, não soube diferenciar.

Minha tensão aumento.

Perguntas de praxe.

Era minha primeira vez.

Estava tímido. Muitas perguntas sem sentindo.

Ela pede que tire meu moletom.

Confesso certa excitação.

Ela diz sorrindo: não vou te machucar.

Não se preocupe apenas bombeie, não temos pressa.

Ao lado via mesma cena.

Menos de quinze minutos e já estava liberado.

Perguntou ela: sentes algo, tontura talvez?

Disse que não.

Fui encaminhado à sala de lanches.

Ganhei lanche!

Acabará de doar sangue.

Me senti realizado. Não era a primeira vez que praticava caridade, mas agora doei literalmente um pouco de mim.

Sai altivo.

Ao passar novamente pela sala de espera do hemocentro da Santa Casa de Porto Alegre vi diversos olhares de agradecimento, eram pais, irmãos, filhos, maridos, namoradas, amigos que sabiam que era doador voluntário; que minha bolsa de sangue poderia ser de seus filhos, irmãos, pais, esposas, namorados, amigos.

Peço desculpa, pelo título, e faço um convite: doe sangue!

O próximo a precisar pode ser alguém que ame, mesmo sendo narciso.

Vinícius Vanir Venturini
Enviado por Vinícius Vanir Venturini em 09/07/2009
Reeditado em 07/04/2017
Código do texto: T1689892
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