ESPERTEZA

- Vovô! Vovô Joaquim ! Chegou um bando de ciganos!

- Hum! Não gosto desse povo!

- Não fala assim, vovô! O senhor não diz que eles são nossos irmãos?

- São, Maria, mas nem todos. Há muitos anos, quando eu ainda morava na roça, fui à cidade vender um saco de batata doce, para comprar querosene e sal, porque o resto nós tínhamos.

Logo na entrada de Mutum, MG, vi um acampamento cigano e pensei: quando voltar, vou dar uma paradinha e ver esses meus irmãos de perto.

Terminei de vender tudo e, antes mesmo de fazer as compras, fui lá. Quando uma cigana me viu, desconfiou que eu tinha dinheiro no bolso e mandou eu pôr tudo na mão dela, para ela benzer.

- Ben-zer?! Eu, hein?! E o senhor pôs?

- Pus e ela disse para eu fechar os olhos, apanhar um punhado de areia no chão e jogar dentro da minha boca.

Como não sou bobo, abaixei de olhos abertos, para ver o quê que a danada ia fazer com os meus trocados.

- E aí, vovô?

- Aí, a espertinha jogou o fruto do meu trabalho dentro do porta seio.

- Dentro de quê, vô?!

- Da blusa. Pensando no querosene e no sal, gritei: me dá o que é meu !!!

- Não estou com nada do senhor, não.

A cigana saiu correndo e se misturou no meio do grupo.

- Uai! E o que é que o senhor fez?

- Busquei um soldado.

- Que legal! Ele fez a cigana devolver tudo, né?

- Quem dera, Maria! Ele juntou todas as mulheres, com aqueles vestidos coloridos, cheios de babados vermelhos e amarelos, e eu não reconheci a que me "passou a perna".