Mariana sentia uma dor intermitente...

( Entender essa história, leia o conto Mariana)

Ela levantou apressada, estava mais uma vez atrasada. Espreguiçou-se sentindo os músculos doloridos se retesarem de tanto cansaço. Nos últimos dias, havia sido uma continuidade de atrasos. Não conseguia acordar no horário, quando o telefone tocava o despertador, tinha vontade de jogá-lo na parede e continuar dormindo. Pensava no dia que tinha pela frente. Então tudo piorava. Arrastou-se até banheiro, tomou um longo banho e ficou mais atrasada ainda. Chamou os dois filhos e avisou que já estava saindo. Um deles resmungou algo, do gênero. To indo! Que ela conhecia muito bem, significava vou dormir mais um pouco. E ferrem-se os adultos. Fiquem me chamando até o além-mundo. Bem, isso era problema do pai deles que estava na cama ainda. Era um permanente adultoscente enfiado nos vapores do álcool.

Mariana sentia uma dor intermitente, enquanto dirigia, distraidamente, na via engarrafada, sentia-se sufocada pelo excesso de trabalho, queria parar. Queria sair, se divertir, olhar a lua, viver a vida. Mas, que vida? Havia somente trabalho de segunda a segunda! Desejava parar naquele congestionamento infernal e berrar da janela, cadê minha juventude e meus sonhos pra onde eles foram? Logo chegaria a Universidade, teria que encarar aquele bando de alunos com suas caras joviais amontoadas de sono e sonhos. Como doía, às vezes, se reconhecer naqueles rostos! Pra onde, ela fora? Por que sofria? Não era para ser feliz? Teoricamente, possuía dois filhos lindos, um marido dedicado, amável e uma profissão que escolhera por opção pessoal.

Ela sabia que havia um mundo submerso, enterrado em lembranças que sempre sufocara, para tentar viver melhor. Era um quarto escuro, cheio de janelas fechadas. Possuía medo dos pensamentos que viriam se abrisse uma janela. Se espaçasse uma, sabia que a dor voltaria imensa e transbordando de arrependimentos. Ficava quase sempre em alerta, porém nos últimos dias.Sentia tanta saudade. Tanta saudade que parecia ter a vida se dissipando aos poucos e ela se perdendo naquele emaranhado de afazeres infindáveis. Mesmo assim, num atoleiro de tarefas, sentia saudades, uma saudade miúda que a corroía por dentro não podia falar com ninguém. Mesmo que quisesse não havia ninguém para falar, possuía somente colegas, gente distante, intelectuais solitários e distanciados que jamais a alcançariam. Aqueles olhos indescritíveis acossavam.

Olhos que eram iguais aos de sua filha. Doía tanto dizer minha filha. Não a via há tantos anos. Mariana lembrava muito bem, eram imagens que não se dissipavam nunca. Até quando dormia nada saia de dentro de dela.O sorriso dele junto aquele rostinho a perseguiam mesmo quando se enchia de tarefas. Não podia mudar o passado, nem prever o futuro, mas não conseguia viver o presente. Sentia-se acorrentada àquele dia. Sim. Ela optara uma vida diferente daquela que ele lhe propusera. Isso era o pior, fizera uma escolha e dentro dela ficaram vários nãos inconciliáveis com o passar do tempo. Aos vinte dois anos, não se sabe muita, as decisões são elevadas pela extrema emoção. Se pudesse voltar ao tempo. Entretanto, o momento.O tempo. O momento não tem bis.O que passou ontem ficou pra trás. O telefone despertou. Mais um dia inicia. Estou, novamente, atrasada!

6/7/2009

Isa Piedras

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 09/08/2009
Reeditado em 08/06/2020
Código do texto: T1744669
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