Calças transparentes

Calças transparentes

Mariazinha deixava as calcinhas de nylon, transparentes, dependuradas em seqüência numa corda no alpendre, e aquelas peças íntimas causavam inveja, fazendo-nos pensar nas comodidades que elas protegiam. Olhava-me com um olhar de Pola Negri, com seus olhos negros e ressaltados pela maquiagem, que insistia em usar, mesmo em casa nas horas de lazer! Tinha um corpo atraente e se vestia com sobriedade, mas elegância; sempre elegante! Seu olhar intrigante, ora me estimulava a tomar decisões importantes, que nunca resultavam em nada, pois, ela conseguia me deixar mudo. Sabia dos efeitos de seu gesto de colocar as calcinhas na corda, por coincidência, sempre à mesma hora, quando eu estava em casa, vindo do curso ginasial; para cada peça que era dependurada, lançava um olhar, como a pedir minha aquiescência, ou pra me dizer, que lavara toda a coleção e, assim sendo, estava naquela hora muito à vontade...Deixava que minha cabeça funcionasse do jeito que quisesse, sem convites ou advertências. Por acaso, minha mãe notara os olhares que acompanhavam a operação calcinha e, não tendo o que dizer, me advertiu - mulher que usa calça transparente não é séria! Não é de admirar que minha mãe fizesse aquela cuidadosa observação, pois, Gabriel Garcia Marques dizia não conhecer mulher séria que não tocasse piano! Mariazinha teria sido uma boa companhia para aconchegar um mancebo adolescente, carente de um amor sincero e inquietante.