O uniforme

O uniforme

O uniforme caqui era usado quase em caráter permanente; nos dias de aula, pela obrigatoriedade e no domingo, por falta de roupa mais elegante. Usava as divisas indicando a classe; V era do admissão ao ginásio, ou cinco listras na ombreira. Quando ia à cidade, devidamente uniformizado, gostava de subir nos edifícios pelas escadas, sem que ninguém me impedisse; um deles era o edifício de A Noite, onde havia a Radio Nacional. Algumas vezes ia até à estação de hidroaviões, onde hoje é o clube da Aeronáutica; gostava de apreciar a amerissagem. Corria pelo enrocamento da Praia das Virtudes, desaparecida com a construção do aterro do Flamengo; era uma verdadeira festa; ão deixava de visitar o Museu Histórico Nacional, onde apreciava as peças imperiais. Não suportava andar amarrotado e pedia à Olga, uma passadeira, que me engomasse a calça, coisa com que minha mãe implicava; segundo alegava, diminuía a duração do brim...Em certa ocasião, pedi que fizesse uma costura no lugar do vinco pra acabar o problema; assim, lancei a moda do vinco costurado. Os sapatos eram chamados tanque colegial, numa alusão aos tanques de guerra; conseguíamos arrebentar os pés, nunca os sapatos fortíssimos. Havia farda de gala para ocasiões especiais, como parada da raça em setembro. Nunca participei, pois, não dispunha do elegante uniforme. O uniforme só deixou de ser usado no curso científico, quando podíamos usar qualquer tipo de roupa.Nossas camisas eram feitas com tecidos xadrez ou cores berrantes, que não encardiam e eram fáceis de lavar. Apesar das dificuldades, as pessoas pobres podiam manter os filhos em escolas particulares baratas e moravam em casas próprias; o dinheiro era mais valorizado e os problemas sociais eram pouco discutidos.