Em frente à porta

Parou em frente à porta. Segurou a respiração.

Seu coração batia forte e acelerado, parecia que ia lhe irromper o peito, tamanho era o desejo de gritar seu nome. Vacilou alguns instantes, mil pensamentos sacudiam sua cabeça, dilatavam suas pupilas e enchiam seus olhos de lágrimas. Não chorou. Suportou o peso das lágrimas sob as pálpebras, como quem ousava levar aos ombros sacos de pesado cimento, pó acumulado de uma vida inteira. Não era capaz de conter um suspiro que seja, seu corpo não lhe pertencia nesse momento, de fato nunca havia pertencido a si mesmo.

Desejo! Vontade incontrolada de gritar o nome, da morada. Mudo não conseguia emitir ao menos um gemido que seja. Pela primeira vez na vida sua alma pertencia a alguém, não era mais penada, ou perdida, maldita e desgraçada.

Agora ele tinha um amor, um nome: paixão. Mas era incapaz de falar naquele momento. Tremendo pateta. Impossibilitado de gritar o nome da pessoa que mais amara em toda a sua vida.

Tentou acalma-se por algum instante e suspirou. Num passe de mágica e de excessivo esforço: Deliciou-se com a palavra que lhe impelia tantos sentimentos e rasgava-lhe a força. Lambuzou a boca, deixando o êxtase lhe percorrer laringe, palato, lábios, moléculas do ar, originando uma onda que acariciaria seu ouvido, tímpano, martelo, bigorna e estribo.

Parte dos seus aparelhos, digestivo e respiratório, eram capazes, agora, de lhe promover tamanho alvoroço emocional. Provocado é claro, por alguma perturbação no seu sistema nervoso.

Maria Lúcia! – Gritou ele.

Eis que sua amada lhe aparece na porta. Com aquele jeito sempre tão confiante. Dona de uma sabedoria peculiar, que ele julgava divino. Ela o olha, solta um charmoso sorriso. Passa-lhe a mão entre os cabelos. Ele lhe entrega alguns papéis:

- Aqui está minha lição de casa... Fiz mais do que a senhora pediu. – já embaraçado, continua – Até andei estudando nos livros do meu irmão.

Ela lhe retribui com um beijo doce na testa. “Meu fofo”, ela diz.

Acariciando as paredes do corredor do colégio, olha para os outros alunos. É um cara de sorte: O garoto mais feliz da quarta-série.

Gregorio Borges

Gregório Borges
Enviado por Gregório Borges em 18/08/2009
Código do texto: T1761058
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