Budião

Meninos vão buscar água.

E lá íamos nós pegar o jumento emprestado ao dono de um sítio amigo,, todo arriado com cangalha e ancoretas, e nos ponhamos no caminho do açude do Senador evitando o cercado do boi azul porque ele era acostumado a dá carreira em crianças, Budião seguia na frente como um fiel batedor nos guiando pelo grande vazado de cana e logo adiante pela grota funda daí para o criminoso, como era chamado o açude por nele ter ocorrido alguns afogamentos.

Éramos tão pequenos que as ancoretas eram cheias de cuia em cuia penduradas na cangalha, pois para nós era impossível suspende-las depois de cheias.

A alegria de nadar e brincar dentro d'agua nos fazia esquecer o perigo de passarmos a ser razões a mais para seu sinistro nome.

Fazíamos estas viagens quando os barreiros e os tanques perto de casa secavam no verão.

Tomaram banho?

Mamãe perguntava ao mesmo tempo que reclamava das canas que estávamos a chupar, por ter sido elas colhidas sem o conhecimento do dono.

Mas era um mundo de cana, e para o nosso mundo de criança duas ou três não fariam diferença. E no outro dia a história se repetia.

Para uma boa ordem, Budião era o cachorro da mamãe, que apesar de muito amigo da gente foi o primeiro e único cachorro sem faro que vi até hoje, ele não sentia nem gambá, era completamente imune ao cheiro, também pudera caparam o bichinho, só depois que minha rede ficou pequena foi que eu entendi que por pirraça ele perdeu também, o interesse pelos os outros aromas.

Gordão, frouxo e uma boa vida, a nossa sorte é que ele sempre teve a companhia de alguém com faro perto dele, então o faro do outro mais o tamanho dele fazia uma soma ás vezes interessante, em nossas aventuras e caçadas pelos campos das redondezas.

Este cachorro é bom pra peba?

É o melhor do mundo! Respondíamos quando nos perguntavam, realmente ele era muito bom para os pebas. "Não estávamos a mentir", ele era tão bom que nem os caçava.

Também pudera, caparam o bichinho.

Esse não vale nem o angu que come, diziam outros.

Mas o que importa é que ele viu todos os parentes morrerem, avós, pais, irmãos, sobrinhos, com faro e tudo, uns mentirosos outros verdadeiros.

E sempre na dele pensando: Debaixo do desse angu não tem osso. E sua preocupação era tanta que para marcar presença, só se alguém pisasse no seu rabo, dava três grunhidos e saia correndo.

Escapou de muitas festas juninas quando os de sua espécie como Cadete, Jupirá e tantos outros só por estarem assustados com os fogos dava a entender ao meu avô que era a raiva e acabavam na mira da 36 e depois em um buraco para não contaminar o mundo.

Desconfiado como era quem capou uma vez foi ele, capou o gato, sumiu, não tivemos o gosto de velo morto e nem de enterrá-lo.

Será que ele não tinha faro...?

Mas foi um grande amigo e sinto saudades, quem me dera tê-lo de novo.