MANTILHA

Judite queria logo ficar adulta para usar a mantilha rendada e preta. Havia um mistério por sob essa peça, um pecado, um segredo que as mulheres depositavam no confessionário. O sonho da menina era ter esse pecado para ir confiar ao padre na missa do domingo.

Lá iam as mulheres da rua carregando o missal, o terço e a valiosa mantilha. Os maridos sérios, fechados, entonados. E pareciam muito bonitos e fortes aos olhos de uma menina. Os filhos arrumadinhos, quietinhos e obedientes, cenas encantadoras.

Os domingos se repetindo e o pecado aumentando. As mulheres choravam e a menina imaginava coisas, povoava um mundo. Os homens dormiam nas ruas. Os filhos cresciam e noivavam. As recém-casadas iam com as outras pecadoras para a igreja. Os rapazes iam com os pais para a cidade.

A menina não quis mais a procissão. Descobriu que os pecados não iam à missa, mas às ruas. O pecado usava rendas também, mas no altar da cama. O tempo descobriu a cabeça das mulheres. A menina continua apreciando rendas, mas escarlate.