Cavalo de Tróia - A incrível história de um corno

(Eu colocaria este texto como um conto de comédia. Mas não há esta subcategoria na seção de contos. Classifiquei o texto como cotidiano e creio que possa se enquadrar também. Afinal, quem não conhece alguém assim!?)

João sabia como pegar sua esposa (aquela safada!) no flagra.

Tirou dinheiro do banco e correu para uma loja de eletrodomésticos. Comprou a maior geladeira que podia e depois ajudado por um amigo fez os preparativos necessários para o seu grande plano.

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Dim-don!! Anunciou a campainha.

A mulher do João, semi-nua e suada, colocou o roupão e foi atender.

- Quem é? – perguntou ressabiada.

- Entrega para Maria. - respondeu a voz do outro lado.

Ela abriu a porta e se deparou com um enorme embrulho. Havia um cartão na mão do entregador que se apressou em fazer seu papel (entregar a entrega).

Maria abriu o cartão e leu uma mensagem de seu marido (o corno em questão) que dizia entre outras coisas ser aquele um presente declarando todo o seu amor. O mais importante, porém, era que João pedia na mensagem que o presente só fosse aberto na presença dele.

Aquele corno! – ela pensou alto com um sorriso safado.

Ordenou para o entregador e outro ajudante que apareceu logo depois, colocar a encomenda na sala (afinal ela ainda não sabia o que era) e dispensou os rapazes. Ela poderia dar uma olhada depois, agora era hora de continuar o que fazia antes de ser interrompida.

- Ricardo! – ela gritou.

Do quarto surgiu um homem alto, forte e pelado.

- Olha o que o corno do meu marido me deu. – Maria pulou para cima dele com uma gargalhada cretina e começaram a transar no sofá.

E o grande embrulho ali, do lado deles.

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O corno do meu marido! João não se continha dentro daquela caixa. Pelo furinho estrategicamente direcionado na direção do sofá, ele via o tal Ricardo “carcando” sua mulher (aquela vagabunda!).

Até agora seu plano fora perfeito.

Arranjara um grande embrulho, se enfiara lá dentro com a ajuda de um amigo que fingiu-se de entregador e junto com mais um conhecido, levaram-no disfarçado de geladeira até sua casa e agora ele via a prova da traição na sua frente.

O sangue fervendo subia e descia pelo corpo com uma velocidade cavalar.

Ele viu quando o grandão saiu de cima da Maria e foi buscar alguma coisa na cozinha. Enquanto isso, ela ficou lá estirada no sofá com um sorriso de satisfação ordinário na cara. Era uma coisa de dar nos nervos e o coitado do João estava a ponto de explodir num ataque raivoso sem precedentes.

Mas a hora ainda não havia chegado e ele se controlou ao máximo.

O cara grande voltou com uma garrafa de vinho. (Mas que piranha! E ela dizia que era para se aquecer enquanto eu não chegava.). E a bebedeira começou.

Um gole daqui, outro gole ali e tempos depois João via dois bêbados caindo no sono.

Era hora.

Saiu do embrulho sorrateiramente por uma abertura disfarçada em uma das laterais e apontou sua pistola (era uma arma mesmo) para os dois.

Pensou em quem atiraria primeiro. O tiro inicial poderia ser no safado corpulento esparramado no braço do sofá com a maldita mão peluda esquerda em cima dos peitos de sua esposa. João podia imaginar a cara de desespero da mulher ao ver seu amante com uma bala no pinto. Depois ele a faria implorar por perdão só para ter o gostinho de matar aquela vaca de joelhos com um tiro na testa.

Ainda de arma em punho, começou a visualizar a repercussão do caso nos jornais. A foto dele na capa do jornal com a manchete: “Corno sanguinário mata mulher e dá tiro no pênis do amante.” Seria triste. Imaginou depois a casa cheia de policiais, um tirando fotos daqui, outros recolhendo cartuchos dali e um outro lhe dando umas belas bofetadas num canto mais escuro da casa. Não seria nada bom.

E então, João fez uma pausa...

Seus olhos começaram a lacrimejar, sua respiração estava acelerando no mesmo ritmo de seu coração. Era a hora de dar um fim naquilo tudo!

Ele abaixou a arma e chorou. Chorou como uma criança assustada. O que se viu depois foi muito barulho, humilhação e no fim das contas, ele pediu perdão por ter pensado em matá-la.

Ela também chorou. Jurou nunca mais encontrar com o tal Ricardo que disparou de calças na mão escada abaixo e nunca mais foi visto.

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As coisas melhoraram. Atualmente Maria trai João com Bráulio, seu velho amigo (aquele mesmo que ajudou com o flagra da geladeira).

João está desconfiado da traição mas prefere assim. Melhor com um conhecido do que outro qualquer.

Pelo menos ele está satisfeito com sua geladeira nova.

G Gonzalles
Enviado por G Gonzalles em 24/08/2009
Código do texto: T1772317
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