Esberto, uma bela lembrança.

É domingo.

Resolvi ir de encontro ao homem que mudou a minha vida, Esberto certamente é o meu herói, o meu super-homem. Deixei cair às lágrimas em meu rosto, estas que alguns dias queriam sair de dentro de mim.

Entrei no carro e pedi ao Severino que me levasse pelo caminho mais longo, eu precisava de um tempo para relembrar certas cenas, passar um filme em minha mente, recordar velhas lembranças guardadas em meu peito.

E assim, por entre aquelas ruas estreitas e aquelas antigas árvores, induzi meu pensamento ao tempo em que eu era menina e Esberto me colocava no colo e assoprava um pequeno machucado em meu joelho... Que enchia minha bóia para eu não afundar na piscina, que certificava a minha comida, retirava as espinhas do peixe ou os ossos miúdos do frango.

Nos fins de semana tinha sempre um bom filme para assistir e Esberto preparava uma deliciosa pipoca, além de um suco de acerola, que realmente só ele sabe preparar.

Recordar as lendas contadas por ele, pra mim, é como um bom livro, suas narrativas e expressões me levavam a um mundo fascinante, a um mundo melhor que este aqui.

Eu já estava chegando...

Meu coração pulsava forte e meu corpo estava trêmulo...

Eu precisava ser forte...

Dizer alguém o quanto o amamos e o quanto sentimos sua falta é um dever difícil, precisava fazer isto ao único homem que amei.

Ausentei-me um pouco depois que casei, meus horários ficaram curtos, tenho que dizer com muito carinho esta minha falta de tempo ao homem que me fez uma grande mulher, com tão belas memórias e incríveis recordações.

Então, entrei calmamente, caminhei em direção a sala e lá estava Esberto, parecia sorrir pra mim.

Colocaram umas imagens caseiras de nossos encontros, nossas façanhas... O filme ainda em preto e branco, um chiado no fundo.

Sem pestanejar, revivi em dez minutos minha vida inteira, fiquei pasma, sem palavras.

Aproximei-me de Esberto e coloquei em suas mãos uma bela margarida... Acariciei seu cabelo branco e pus-me a chorar...

Um choro suave, lavando minh’alma...

A banda contratada iniciava a melodia.

“... Ainda se eu falasse a língua dos anjos e falasse a língua dos homens, sem amor, eu nada seria...”.

Começava o velório do vovô.

Sulla Mino
Enviado por Sulla Mino em 29/08/2009
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