A inocente Liana

Conheceu Liana na antiga Galeria Cruzeiro; andaram a pé até o Largo da Glória, onde pontificava, além da igreja do outeiro, a Taberna da Glória. Naquela época, o mar passava rente à Avenida Rui Barbosa e, quando havia ressaca, os moradores ouviam o estrondo das ondas castigando o enrocamento. Liana morava num prédio próximo à taberna, prédio que muitos anos depois foi demolido em parte, para não prejudicar a vista da igreja. Passeavam e se esfregavam pelas ruas do Catete, a ponto de serem chamados à atenção pela guarda municipal. Não concordo com o que faziam, embora nada fizessem! Era um desrespeito à autoridade máxima da Nação, que ocupava uma quadra inteira ao longo da Ferreira Viana; era ali o palácio das águias, onde morava o Presidente da República. Liana, segundo o relato, costumava reclamar de um jornalista internacional, amigo da família, que abusivamente em vez de levá-la ao dentista, levou-a pra cama. Ouvia sempre com interesse, o mesmo relato sobre as inusitadas visitas ao dentista. Imaginem que o jornalista era um grande amigo e contemporâneo de seu pai! Pobre Liana caiu nas ciladas do destino, mas não aprendeu a lição. Agora, envolver-se com um jovem estudante, que não tinha dinheiro sequer para lhe pagar um hotel decente, com lençóis acolhedores e perfumados... Arriscou-se demais, convidando-o para visitá-la no confortável apartamento em que morava, na ausência da família, com direito a solo de piano e refrescos de tamarindo. Quase fica responsável por sério acidente, quando o jovem assustado com a insistência da campainha da porta, achou prudente sair pela janela...do 3º andar. Liana, segundo o relato, manteve-se fria como toda jovem inexperiente, permanecendo trancada exclamando - seja quem for, pai ou irmão, não abrirei a porta! De fato, não abriu; para sorte deles, era um irmão casado visitante, que ficou sendo observado do jardim de inverno. Passado o susto, Diana do alto de sua inocência, convidou-o para que terminassem o que haviam iniciado! Sendo assim, iniciaram uma grande história de amor, que se caracterizava pelos encontros afogueados e pelas visitas ao dentista (!) até que, a idéia de casamento, provocou a ruptura do relacionamento. Posso garantir, que nenhum dos dois sofreu qualquer saudade e a vida continuou!