Três Marias

As Marias da casa são Marias de uma vida inteira, três gerações de Marias. Tem Maria Cecília, mãe de Maria Antonia cuja casa habitava e que dera a luz a Maria Cristina. Essa filha adolescente, na terceira geração das Marias, essa cujos impropérios, tomava sempre corretivos, dando dores de cabeça as Marias Mãe e Avó, de coisas que a Avó não poderia nem sonhar, já que octogenária ficaria escandalizada e decerto diria – Essa menina é uma desonra! Ficava pensando com seus botões, onde errara na educação de Antonia, para ter nascido uma neta assim tão arredia e barulhenta. E rogava todos os dias para que a neta endireitasse.

Eis que um dia, acorda no meio da noite para tomar um copo de leite e resolve passar no quarto de Cristina, pobrezinha deve estar descoberta, e ao chegar percebe que na cama há dois pares de pés e com certeza a neta não era dona de todos eles. Dona Cecília, começa a gritar. – Maria Antonia! Corre cá. Acuda! Há um ladrão na cama de Cristina! Pega um rodo e se coloca de prontidão entre a cama e a porta do quarto e dana-se a bater na perna do estranho, que agora com os gritos e a canela batida, dá um pulo e fica de pé ao lado da cama. Outro grito de dona Cecilia – Há! Ele ta pelado. Vagabundo, indecente e imoral. Ele coitado, ainda semi adormecido, puxa o cobertor da cama e enrola na cintura, com os olhos esbugalhados, começando a entender o que estava acontecendo, olhando dona Cecília com uma panela na mão e ele torcendo e rezando assustado para que não estivesse com água fervente. Era só o que faltava.

Desfeito a confusão, dona Antonia teve que dar calmantes a mãe após tentar explicar o que estava acontecendo, e é claro após uma bronca colossal em Cristina, por aquela loucura. – Vê se pode uma coisa dessas? Trazer um namorado para dentro de casa? Já fora longe demais essa menina. Dona Cecília ainda tonta, não conseguia conceber tal afronta e liberdade, em seus oitenta anos nunca vira uma cena como tal. No seu tempo, homem só dormia na casa quando casava e decentemente, pelado nunca. Achava aquilo tudo uma pouca vergonha. Ficou imaginando onde fora que errara na educação da filha?

Há! O pobre visitante, ou “ficante” como diria Maria Cristina, esse saiu correndo como um louco, apesar das desculpas e broncas de dona Antonia, e deve estar fazendo-o até agora e pensando, “Que loucas! Nem pintado de ouro quero ver essas malucas. Deixou para trás uma cueca, que só se deu conta quando parou, a tal que dona Cecília excomungou enquanto tacava fogo, tentando eximir o pecado que ali chegara e dizendo – Vixe cruzes! “Que afaste daqui esse tal”.