Popularidade? Pra que?

Nunca fui uma pessoa extremamente popular na escola, no prédio, na vizinhança... enfim... nunca fui popular em lugar nenhum. As pessoas sempre souberam da minha existência, sabiam dos meus passos, mas eu não as conhecia o suficiente ou sequer havia um contato que as fizesse ser minhas amigas.

Sou e sempre fui muito tímida e reservada na minha vida particular. Não frequento casas, não vou aos aniversários, não telefono, não convido para virem na minha casa, salvo raríssimas exceções...

Até então eu não conseguia entender esse afastamento, essa xenofobia que eu sentia de tudo ao meu redor. Meu mundinho, minha redoma de vidro, meu círculo de proteção, tudo isso não faz mais sentido, pois eu percebi que se tivesse vivido mais em contato com as pessoas, talvez minha vida hoje seria diferente... ou não!

É óbvio que tudo isso tem um motivo. Lembro que qualquer tentativa de socialização da minha parte sempre acabava em guerra, beliscão, arranhão, cuspe e briga... Sim, uma criança no mínimo sociável eu tinha que ser, mas quem me deixava em paz? Sempre aparecia um pentelho pra tirar minha paz e o mesmo acabava machucado porque “eu só estava me defendendo”...

A solução que meus pais encontraram foi me enclausurar nesse apartamento-gaiola, somente sendo permitido ir de casa para escola e vice-versa, do balé para a escola e vice-versa, e da ginástica olímpica para a escola e vice-versa.

Aos domingos, lá íamos nós para a casa de parentes (que por sinal moravam perto uns dos outros, então imagina só a via sacra que era...). A vantagem era o excesso de primos e primas da mesma idade com os quais era permitido brincar. Os finais de semana salvavam!

Mas acredito que a falta de pessoas que não fossem da família no meu convívio gerou esse meu comportamento um tanto antissocial ao estilo “poucos amigos” que ainda sinto que tenho.

Perdi muitas oportunidades de me divertir, de conhecer coisas novas, de crescer e amadurecer pelo simples fato de achar que não precisava de ninguém... Na verdade não era isso que estava dentro de mim e sim o medo de encarar as pessoas, de deixá-las entrar na minha vida, de me envolver...

Eu mesma fui me bastando com meu mundinho secreto de amigos de correspondência e os diversos amores que tive à escondida com os rapazes do colegial... Vidinha bagunçada a minha... Quando o sujeito começava a dar a intenção de que queria algo sério, levava uma "bota"! Isso até eu realmente achar um que valesse a pena.

Foram 4 anos de namoro onde a diferença de idade (ele 9 anos mais velho) me fez crescer um pouco em relação à vida, mas não muito, pois essa mesma diferença de idade denotava minha imaturidade em lidar com um relacionamento sério, fazendo o indivíduo sofrer além do que precisava...

Sim, pois todo mundo tem que sofrer um pouco para entender certas coisas da vida e saber dar valor a elas... mas até esse sofrimento tem limite, não?

O que me levou a escrever tudo isso assim de repente foi o fato de que eu hoje, maquinalmente, abri minha página de relacionamentos na internet e me deparei com um aniversário de um de meus contatos... Engraçado que essa pessoa que faz aniversário e para a qual eu deixei um recado de “parabéns” mora no mesmo prédio que eu, e eu quase não a vejo e nem tenho assunto e nem intimidade com a mesma...

Mundinho vazio esse que a gente cria, não é?

É como se as pessoas fossem apenas um enfeite em nossas vidas... Não tendo nenhuma outra função a não ser “dar bom dia”, ser o vizinho estranho do andar de baixo, ser a vendedora de temperos na garagem da casa em frente ao edifício onde moro...

Até os moradores da rua do lado sabem quem eu sou: “ah, aquela ruivinha estranha do prédio”, ou então “a garota que só sobe as escadas e nunca vai de elevador”, “a baixinha exótica que só se veste de preto”... Sempre vão encontrar o que falar de mim, pois é assim que elas se satisfazem ao ver alguém: rotulando.

Porém, as pessoas que conhecem o que escrevo, o que digo, o que eu deixo que elas descubram sobre mim (porém sem mostrar minha cara), essas pessoas parecem ter mais apreço por mim, pois não existe uma super bota de salto 15 ou um corset justíssimo que eu visto para elas me julgarem.

Minha aparencia está salva nesse meio. Aqueles que só me veem, julgam o que quiser, mas os que me leem, entendem um pouco mais de mim.

Quando estou nesses momentos estranhamente reflexivos, não só dá uma vontade de sumir, como também de criar... Vou tentar criar algo e aproveitar esse momento pra fazer as pessoas entenderem mais ainda sobre mim. Não tudo porque perde a graça, mas o suficiente para que limem de suas mentes qualquer imagem pré-concebida que costumam fazer a meu respeito.

Elaine Thrash
Enviado por Elaine Thrash em 09/09/2009
Reeditado em 25/10/2010
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