O melhor de todos

O melhor de todos

Achava bonito aquele romance, e gostava da maneira com que Marcos falava de seu interesse por Anete; não esquecia os menores detalhes; a maneira sensual com que ela mordiscava os lábios, sem dizer exatamente o que pretendia, mas dizendo tudo, como se fosse uma canção sem palavras; Anete desfilava garbosa, como uma gazela de torso empinado, sempre com a pele morena suada, freqüentemente, olhando de soslaio e com respiração ofegante; era um permanente convite ao amor e às sacanagens, para ser mais explícito, pois vivia em permanente estado de tensão. Marcos se vangloriava e procurava mostrar aos amigos sua capacidade de sedução, talvez para torná-los tímidos e melhor proteger seu relacionamento com a namorada; muitas vezes, no meio de uma roda de amigos, dizia precisar sair para tomar um "licor de anis"; compreendem? Ninguém compreendia, exceto eu que costumava ouvir suas histórias com uma ponta de inveja, já que ciúme não seria o caso; o máximo que eu falava com a jovem era apenas um cumprimento, sem qualquer esgar ou movimento de lábio, que pudesse deixá-la inferir qualquer sentimento mais orgânico; cuidava de deixar as mãos sempre policiadas, evitando que pudessem sugerir alguma coisa como toques escandalosos; nem sei a razão de falar assim, pois, não me fora dada qualquer intimidade, exceto quando ela olhava duas ou três vezes para trás, depois de passar por mim, mordiscando o lábio inferior como era de costume. As histórias de Marcos se tornaram cada vez mais freqüentes, representando um envolvimento mais sério; contava exultante que depois de terminarem uma relação, ela lhe dizia empolgada: Você é o melhor de todos!