Morro carioca

Subia sofregamente as escadas mal arrumadas, para chegar ao topo do morro, com interesse de ver a paisagem, e o grau de dificuldades que as pessoas tinham de ir para seus trabalhos, morando em lugar tão inóspito. Aquilo era programa de domingo, em que fazíamos companhia às cabras, todas de cor branca e sujas de barro. No alto, o morro era como uma esplanada, um milagre, onde havia uma imensa caixa de água, que em vez de água tinha lixo; dela contavam-se inúmeros casos de crianças, que soltando pipas distraídas, caiam em seu interior tendo graves lesões físicas. A citada caixa-d'água era etiologia, junto à paralisia infantil, das mazelas motoras apresentadas por crianças e adultos. Os moradores, pessoas simples e trabalhadoras, já conheciam aquelas excursões das crianças privilegiadas, que moravam no plano, cota zero, e praticavam um tipo de alpinismo; aquelas que faziam cocadas, doce de pobre, ofereciam com grande simpatia, sendo imediatamente aceitas por todos. Com o passar dos anos, os morros que eram habitados por pessoas humildes, passaram a ser foco de marginais dos tóxicos e esconderijo de ladrões e homicidas. A que ponto nós chegamos! Ainda querem criticar o que não entendem, por exemplo, a vida em Cuba; quisera que os pobres de nossas favelas pudessem ter a vida familiar que têm as famílias cubanas. Não adianta argumentarem, que os cubanos não podem sair de Cuba; também no Brasil, os pobres não podem ir a lugar nenhum, salvo cemitério; também os ricos já não podem ir aonde querem, pois, para os EUA o visto tornou-se motivo de sofrimento. De cima do morro eu gostava de olhar o Corcovado e a Igreja Coração de Maria, onde Irene se casou e D. Augustinha fez uma festa do arromba!