O Conto do Cavaleiro na Armadura Dourada

(Escrito e postado. Sem revisão ou releitura. Um pequeno texto que estava entalado na minha garganta há séculos.)

Era uma vez um bravo cavaleiro em uma armadura dourada, que andava com seu alazão branco por vilarejos, florestas, montes, montanhas e planícies. O cavaleiro andava atrás de uma grande aventura, onde pudesse, talvez, encontrar sua futura esposa. Pois que era um cavaleiro muito nobre, habilidoso e dedicado. O tipo de homem que daria sua vida pela de sua amada.

Pois que era o tipo de homem que acabaria, então, trombando com tamanha aventura que jamais esqueceria em sua vida.

Em um pequeno vilarejo, cujo nome era tão insignificante que ninguém (nem mesmo os moradores) lembrava, o bravo cavaleiro na armadura dourada ouviu os rumores de uma princesa raptada por um temível dragão de quinze cabeças. Não haviam recompensas, não havia lucro em tamanha empreitada. Era o tipo de aventura que inflava o coração do cavaleiro na armadura dourada. O tipo de missão que fazia a honra e a dedicação correrem por seu sangue.

Sem pensar duas vezes, montou em seu alazão e cavalgou na direção do covil do temível dragão. Quilometros incontáveis foram percorridos, parte a cavalo, grande parte a pé. Com trocentas criaturas o cavaleiro na armadura dourada confrontou-se, cada vez piores. Mas a cada passo dolorido que dava, sentia-se mais próximo da vitória. Sentia-se mais próximo de salvar a graciosa donzela raptada.

Somente os Deuses sabem quantos dias o cavaleiro na armadura dourada dedicou nesta empreitada. Quantas noites dormira com frio e sem comer. Quantos sóis não passaram por seu elmo reluzente. Somente os Deuses viam as façanhas daquele cavaleiro solitário e impetuoso.

E dias tinham se passado. E noites haviam corrido para trás do cavaleiro. Quando a primeira placa medonha ele avistou: “Covil do Maligno Dragão à Frente. CUIDADO!”. O momento inflamou seu peito e, com uma força tirada somente de seu bravo espírito, o cavaleiro na armadura dourada afirmou-se adiante e logo se deparou com a mais terrível das cenas.

Diante dele outra história desdobrou-se e, nela, a princesa já havia matado o Dragão com as próprias mãos. A princesa não usava um vestido rosa e deslumbrante, mas calças jeans, camiseta e top. A princesa tinha um apartamento alugado com o dinheiro de seu estágio. A princesa fazia um Curso Superior. A princesa já tinha ficado com vários caras e dormido com tantos outros. A princesa tinha um iPod e editava suas fotos no Photoshop. A princesa saia para festas e dançava até o amanhecer. A princesa não pensava em casamento, nem ajuntamento, nem qualquer coisa que se parecesse com essas coisas inapropriadas e velhas. A princesa, A princesa, A princesa, era extremamente auto-suficiente e, ao olhar para o bravo cavaleiro, cuja armadura havia perdido o brilho durante os combates e agora somente parecia feita de latão, exclamou:

- Homem de lata, então. Onde está seu coração?

Ao que o extremamente cansado e desajustado cavaleiro na armadura de lata respondeu.

- Agora já não sei mais, senhorita. Agora já não sei mais.