Hoje é feriado!
Uma história pode ser contada de diversas maneiras e por diversas pessoas. Daí o ditado: quem conta um conto aumenta um ponto. Por isso me dei a liberdade de contar novamente esse acontecido.
O fato se deu por volta do ano de 1992 e logo depois um cantor que pensa muito narrou isso. É possível que eu não consiga descrever exatamente tudo igual, mas darei meu testemunho.
O barulho do tiro ecoou naqueles prédios modernos e chegou aos ouvidos de grande parte da população da capital brasileira. A mira perfeita fez o minúsculo projétil cravar-se no centro do olho direito do presidente da república.
O homem alto, jovem e imponente caiu imediatamente no chão esburacado. A primeira dama, uma mulher bonita e de cara inteligente, deu um grito e desmaiou. A brigada de segurança não perdeu nenhum milésimo de segundo e iniciou a perseguição ao Monza vermelho.
As pessoas da rua tentavam fazer uma roda em volta do corpo e a polícia tentava impedir. Foi quando um cidadão alto que estava no meio dos outros gritou:
- Ih, é o presidente!
E foi a palavra mágica para que os aplausos se iniciassem. Alguns começaram a ovacionar também. Dentro do Monza, encontrava-se o tal cantor e, ao seu lado, eu.
O barulho das sirenes atrás da gente estimulava uma produção de adrenalina tão grande dentro do meu corpo que parecia que íamos explodir. Mas foi a melhor sensação da minha vida. O Monza acelerava forte e eu sentia o cheiro de álcool dentro do meu nariz.
Foi quando um bloco de pessoas começou a se formar um quilômetro à nossa frente e Gabriel começou a frear. Quando o carro parou totalmente, o povo fez um imenso paredão à nossa volta e impediu que os seguranças e policias chegassem até nós.
O povo unido, jamais será vencido!
Gritavam todos eles.
De repente, um grupo de umas seis gostosas entrou no carro e começou a assediar a gente. Teve uma que passou a mão em meu pau e perguntou onde estava a minha pistola. Nesse mesmo momento, o hino nacional começou a tocar.
E o povo batia ainda mais palmas e cantava forte, com muito fervor. Havia fé, esperança e alívio na música. A energia contagiou até os policiais que cantavam também e participaram da festa.
No velório, nem o forte esquema de segurança montado impediu a população de invadir o cemitério. E o hino era cantado de maneira alta e forte e os aplausos se iniciaram assim que viram o corpo do presidente no caixão.
Bonita camisa Fernandinho, bonita camisa Fernandinho. Você com essa roupa de madeira ta bonitinho.
Um grupo cantava enquanto um pessoal mais empolgado começava a quebrar o caixão. E eu e Gabriel, que víamos tudo da TV do Motel com as mulheres, fizemos uma aposta para saber qual time ganharia no baba que se iniciava com a cabeça do presidente. E o barulho dos foguetes trazia uma emoção tão forte que a gente se abraçou e lágrimas rolaram.
A festa contagiou o Brasil inteiro e todas as cidades festejavam pelas ruas. As pessoas se abraçavam e se cumprimentavam. Gabriel e eu acompanhávamos toda a festa pela TV, pois éramos fugitivos. Mas a felicidade era imensa. Ele, então, me disse:
- Isso dá uma boa música!!