O casamento de Irene

Justamente no ano em que morreram Lampião e seus capangas, deu-se o casamento de Irene; o casamento se constituiu durante os 3 meses que o precederam, num motivo de discussões acadêmicas sobre o esplendor de alguns casamentos suburbanos. O pai da noiva era importante comerciante do ramo de padaria em Jacarepaguá, morava numa grande casa de imenso terreno; Dona Augustinha sua esposa e mãe dedicada cuidava muito bem de suas filhas, jamais as tendo criticado pela obesidade que já se aproximava; sem falar de "Dundum" seu filho obeso, com mais de 100 quilos. Os preparativos estavam esplendidos e eu vivia o instante glorioso de entrar paramentado na igreja, carregando a almofada de cetim, onde os noivos se ajoelhariam para as juras de amor e fidelidade eternas. Fui levado algumas vezes à costureira no Engenho de Dentro, que me preparava a calça de veludo e a blusa de seda, de mangas compridas e botões forrados de seda; eu me sentia o próprio delfim, além da importância e conjecturas sobre a difícil missão de carregar a almofada. Hoje revejo as fotografias, eu com 7 anos, firme e empertigado ao lado da noiva; Vilma, minha companheira de brilho, levava as alianças no bico de um pássaro branco; sua figura rendada me causou uma viva impressão, dando-me a certeza de que se tratava de um caso de amor à primeira vista. A festa foi uma beleza, com a importância podendo ser medida pelos 12 barris de chope esperando os convidados; àquela época, sabia-se da importância da festa pela quantidade de barris que eram consumidos. Vilma era filha de Cidinha, viúva de Casemiro.Eu estava em casa de minha avó, anos antes, quando Dundum foi anunciar a morte do cunhado; chegou na porta e anunciou de maneira bombástica: Venho avisar que o Casemiro morreu! antes que qualquer pessoa pudesse falar alguma coisa, segurou-me pelos cotovelos para me jogar para o alto, conforme brincadeira corrente, mas tendo calculado mal, permitiu que meu nariz batesse em sua cabeça, provocando enorme hemorragia, uma das primeiras epistaxes que me acompanharam pela vida. As pessoas antes de iniciarem o processo doloroso de comentar a morte e saber-lhe os detalhes, ficaram pressurosos em me atender; não se sabia o que era maior, se os gritos que eu dava ou a quantidade de sangue que me manchava a camisa.