Não se pode ganhar todas

Entrou no trem e parou perto da porta. Sempre dava uma olhada ao redor em busca de conhecidos ou mulheres. O radar estava sempre ligado e sempre muito afiado. Dessa vez não foi diferente. Rapidamente se postou diante de uma bela jovem acompanhada com a mãe e outra que estava sozinha. Optou em investir seus olhares na sozinha.

Ele olhava a morena de blusa rosa, cabelos pretos e uma medalhinha de algum santo que não identificava. A menina estava de cabelo preso, aparentava ter uns 22 anos, boca bem desenhada, sobrancelhas finas, unhas feitas. A menina também o olhava, não com a mesma frequência que ele. Os olhares se cruzaram até que outras pessoas entraram e se colocaram entre os dois, que azar.

Ele pensava consigo mesmo o que faria. Ele continuaria olhando e a deixaria ir embora, era muito inseguro para tomar uma atitude, e pra piorar a garota tinha cara de mau. Ele se torturava, a adrenalina subia, ele estava bolando qualquer coisa pra puxar assunto, se alguém se levantasse perto dela certamente o lugar era dele. Sua dúvida e falta de atitude imperaram por toda a viagem. Ele decidiu que se ela descesse na mesma estação que ele, falaria com ela.

Por mais que alguém seja positivo, as chances eram remotas. Mas, as vezes, a sorte sorri, a menina desceu na mesma estação. Os dois saíram sem muita pressa, passos leves e ritmados. Iniciou-se assim o diálogo:

- Você sempre tem essa cara de mau?

- O que?

- Você é sempre séria assim?

- Não, só quando um estranho me encara no trem.

- E se esse estranho estivesse interessado em você e tivesse te achado linda?

- E por que esse estranho não veio falar comigo?

- O estranho é tímido, mas só no começo.

- Sei...

- Qual o seu nome?

- Alessandra- respondeu a jovem com um sorriso nos lábios.

- Lindo nome, condiz com a dona- papo canalha que sempre arranca um sorrisinho.

- E o seu?

- Símio.

- Diferente né... - feio.

- Mas então, está com muita pressa?

- Não, sai cedo da faculdade hoje, só fui fazer umas provas.

- O que você faz?

- Comunicação Social.

- Ta com fome?

Subiram a escada conversando animadamente num prenuncio de algo bom que aconteceria. Foram a uma praça, conversaram, riram e por fim se beijaram. Seus cabelos macios escorriam-lhe pelos dedos e as mãos delicadas e finas da moça lhe acariciavam os ombros e as costas. Olhavam-se, conversavam se beijavam...

Ele retorna a realidade, vê a garota subindo as escadas e saindo pela roleta amarela da estação de trem. Tudo não passou de ilusão, ele e sua fértil imaginação, antagonista de sua falta de iniciativa e "garotice". Foi ilusão, tudo na cabeça dele, imaginara tudo isso em 1 minuto, enquanto estavam de pé esperando a porta se abreir, ainda teve tempo de olhá-la mais uma vez.

Essa, assim como muitas outras, subiu a escada enquanto ele olhava sem dizer ao menos um oi. Ele não tomou um não, mas também não correu o risco do sim. Pois é, dias melhores virão, se prepare, a vida não volta atrás, construa um novo futuro uma vez que o passado passou.

Símio
Enviado por Símio em 28/10/2009
Código do texto: T1892707
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