Traição e Vingança - Contos Femininos

Era já final dos anos noventa, eu deixava a adolescência e entrava na vida adulta animada com as perspectivas de um novo rumo que por certo minha vida tomaria quando tudo aconteceu. Conheci o primo de minhas melhores amigas. Era um homem trabalhador, nem feio, nem bonito como diria um bom mineiro. Jovem de olhos verdes e sorriso franco, de aspecto comum, que me cortejava com cuidado, como se com o manejo eu viesse quebrar.

Para ser franca fiquei esperando ver estrelas em nosso primeiro beijo, mas nada disto aconteceu. Gostei do beijo, do pedido de casamento e do carinho que do jovem Isaías. Ele contava na época 25 anos.

Tudo ia bem, até que um dia ele chegou em nossa casa - na época eu morava com as amigas - e disse-me que não éramos compatíveis por diversos motivos: não éramos da mesma religião, morávamos em cidades diferentes, tínhamos criação diferentes e mais uma coleção de fatores passíveis de diálogo e até adequação. Eu estava com 19 anos e apesar desta idade, não achei muito real estas desculpas todas.

Minhas dúvidas se dissiparam com a constatação de que estava certa, quando, numa manhã dominical, deparei-me com seus pais em nossa casa, de braços dados com uma coisa estranha que chamavam de mulher. Não era feia, devo ser sincera, mas algo nela me fazia ficar arrepiada e não era o fato de Isaías querer pedi-la em casamento, como me informaram em primeira mão seus zelosos pais. A frase que me fez ficar desconfiada que havia algo errado com o final de nosso relacionamento foi dita por seus pais: "É uma santa esta moça."

Meses depois se deu o casamento, não sem antes passarem por um curto noivado.

Aquela inconha com que eles denominavam por mulher, passou a viver com meu Isaías, com o aval dos pais dele.

Confesso que me senti muito chateada com tudo. Algumas noites acordava disposta a chorar de ódio ao pensar que tudo o que sonhara agora aquele ser estranho vivia com meu carinhoso e não esquecido amor.

Os anos se passaram.

Certo dia, conversando com uma de minhas amigas - aquela que morreu quando eu estava de cama - ela contou-me que a pouco soubera o motivo real do fim de meu rápido namoro. Zacarias, o irmão de meu ex, contara a ele que eu era uma garota volúvel - se é que ele sabe o que isto significa. Que costumava ficar de namoro com os garotos e quando eles queriam compromisso, saia fora. Não satisfeito, contou a todos de sua família que eu quisera dormir com ele. Nem preciso me defender destas calúnias, é óbvio.

Quanto ao outro...

A inconha que eles chamavam de mulher, é um ser desprezível, só agora teve uma filha e quem dá banho e limpa - quando chega do serviço - é o marido. Que segundo sei, não casou com ela por amor e sim por imposição da família. Sua família! Família que deve estar satisfeita com a escravidão em que seu filho responsável vive hoje.

Na verdade perguntam por mim. E quando sabe algo de mim, ficam admirados, dizem hoje que não entendem por que uma mulher tão sensível e especial ainda não se casou. Louvam meu dotes culinários e minha solidariedade, minha personalidade doce e carinhosa.

Quanto a mim, reservo -me o direito de permanecer calada, já que diferente do burrinho do Shrek, tenho esta capacidade.

O Zacarias foi vingado pela vida. Sua mulher, uma Amélia inveterada, abandonou - o foi viver com um homem mais jovem que ele e, para seu desespero está esperando um filho, deixou para trás as 4 meninas que teve com ele. Menino, como ele sempre sonhou.

De todas as que me aconteceram até hoje na vida, esta é a trairagem que mais me atingiu. Perdi até a ponta da unha por causa dela...

A vida nos prega cada peça! Ou seriam as pessoas?

Hetebasile

Elisabeth Lorena Alves
Enviado por Elisabeth Lorena Alves em 09/11/2009
Reeditado em 06/03/2016
Código do texto: T1913094
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