O Riacho


O riacho em toda a sua extensão, desde o Araújo até a passagem para a Cacimbinha era bem acidentado especialmente no cabação, local mais perigoso, nos períodos de enchentes quando os açudes de Sr. Domingos e Dr. Cândido, sangravam.

Nos dias de grandes chuvas, em pleno inverno, podia-se admirar o grande volume d’água barrenta cobrindo todo o leito do riacho e avançando nas direções dos muros das casas da rua do Araújo e da roça de vovó Luzia.

O espetáculo era belíssimo quando visto da ponte da Taboqueira. Porém nestes dias, tínhamos que nos contentar apenas em apreciá-lo; banhar-se ali poderia ser perigoso e até fatal principalmente para as crianças que não sabiam nadar. Era muito divertido quando a enchente diminuía. Tomávamos banho, nadando contra a correnteza, brincávamos com barquinhos de papel e observávamos plantas e objetos trazidos pela água.

Naquela época, o riacho não oferecia perigo à saúde. Jamais se registrou um surto epidêmico por conta dele, pois os esgotos e as fossas não desembocavam nele, como hoje.Com o passar do tempo, com a construção de novas ruas nos locais onde haviam árvores e até fontes d’água como a cacimba do boi e a de vovó Luzia, o riacho foi ficando sem vida, morrendo aos poucos e tornando-se um perigo para a população.

Dói muito acompanhar o processo de transformação de um amigo inofensivo em inimigo perigoso.