Deu que a panela explodiu

Parece-me tão difícil expor algo que tanto desejo, ora, se tanto quero, quer saber? Farei.

Um belo prato vegetariano, de certa forma, explica o que sinto.

Foi o início, no dia em que soube da história de Seu Raimundo e Dona Helena.

Era uma pequena fazenda em Águas Claras, Mato Grosso do Sul. Ao alcançar o tão demorado portão, via-se apenas uma pequena casa de cor salmão, de seus três suficientes cômodos e uma extensa varanda com uma rede cozida por seu Raimundo, como conclusão de sua promessa à Helena, que há 10 anos tivera uma vida conturbada e que após conhecê-lo numa viagem, resolveu abrir mão de tudo que não possuía para levar uma vida humilde prometida pelo então rapaz, que cansado de escrever a ninguém, a confessou que morreria feliz se, em três cômodos, tivesse um quarto para possuí-la todas as noites, uma cozinha para preparo do café, que ele prometera levar à cama em todo o seu despertar até o fim dos seus dias e uma sala para na parede cheia de fotos lembrar seus amigos e pendurar, a cada dia, textos na parede com histórias para distrair a tão amada esposa que um filho não pôde te dar, porém, eternamente seria recompensada por sua compreensão, além disso, a varanda os aguardava na maioria das noites com brisa, estrelas e um pingo de solidão enaltecida ao som do violão.

É dali que vem os ingredientes dessa sopa que te preparo: cenoura, mandioca, batata, milho...

Na cozinha americana, cada legumes que preparo, é um minuto que perco a te olhar, linda, a dormir no sofá.

Na panela de pressão, o escape deixa sair o aroma do amor de Raimundo e Helena, enquanto eu, por dentro, a ponto de explodir, não espero o fim da pressão e com um pequeno toque em seus lábios, pronuncio em seu sonho, um verdadeiro eu te amo...