NADA MAIS QUE UMA HUMILHAÇÃO

Ela estava atrasada de novo, já eram 07:40 e não tinha saído da cama, a aula começava as 08:00, somente operando um milagre ou recebendo uma benção do homem lá de cima para chegar a tempo da primeira aula na faculdade.

Tinha 18 anos, cursava o primeiro período de comunicação numa faculdade particular no Rio de janeiro, seu nome, Juliana. Cursava comunicação pois um bando de colegas do terceiro ano do segundo grau iria cursar também, ela não tinha muito a cabeça feita pra nada, tava bom, a galera ia fazer, vou fazer também, pensou.

Havia uma pressão natural em seu lar, ela não podia ficar parada, seus pais tinham uma condição bem razoável, deveria cursar faculdade até de purrinha ou de empilhamento de revistas femininas para sair de casa pois senão, ia ouvir bastante de mamãe e de papai, este sempre dizia:

- Sem curriculum você não é nada, você espera o que da vida, casar com um homem rico e ser feliz pra sempre? Isto não existe mais, minha filha...

E ela sabia que isto não existia mais, sabia que deveria estudar, fazer a porra da faculdade e se formar e ai depois, ver no que dá, como me referi antes, ela não tinha a cabeça feita pra nada.

Quanto ao homem rico, realmente seu pai tinha razão, não havia mais essa história de encontrar um homem rico e ser feliz para todo o sempre, sua vida pessoal realmente era questionável, sempre se relacionou com trastes, ricos ou pobres, tanto faz, nunca deram o valor para ela ou mesmo ela nunca se deu o valor nestes dezoito anos, conseqüência inevitável, um grande problema de auto estima que refletia em casa, na faculdade e em seus relacionamentos, sempre se sentia por baixo e sempre acatava tudo o que lhe falassem, familiares, colegas, amigos, professores e namorados.

Este ano começou um pouco diferente, fez um grupinho de amigos na faculdade, conheceu um carinha bacana, que apesar de fumar bastante maconha, algo que ela não se importava muito, cheirar cocaína a noite nas festinhas, algo que ela não achava legal, este carinha aparentemente tratava dela bem, respeitava ela, levava sempre ela para sair, apresentava ela pra todo mundo como sua namorada, estas coisas que qualquer menina de dezoito anos fica maravilhada e ela estava começando a ficar bastante ligada neste cara.

Na sexta feira, uma grande festa da faculdade vai ocorrer numa conhecida boate da barra da tijuca, ele combinou de apanhar ela as 23:00 horas em Ipanema, onde ela morava, iriam a festa e depois ela pediu para ela falar com os pais que ela ia dormir na casa de uma colega, pois passariam a noite num motel na barra da tijuca mesmo.

Tudo certo, já estavam na festa, a festinha até estava boa, regada a bastante cerveja, whisky e outras coisinhas mais, quando deu tal hora, umas 02:00 já estava tudo OK, se dirigiram para o estacionamento e rumaram para seu paradeiro, a sorte começou a mudar quando uma viatura na estrada da barra da tijuca solicitou sua parada imediata num local ermo deste logradouro, eles obedeceram, seu namorado, Paulo, estava quase em choque de tanto nervosismo.

Sargento Vieira e cabo Rubens, dois policiais antigos na corporação não estavam muito interessados na manutenção da ordem, na defesa da população ou do patrimônio público ou privado, apenas estavam dirigindo, matando o tempo e aguardando uma boa oportunidade, parece que eles foram ao encontro da tal oportunidade.

Já na parada Vieira fez a abordagem e viu que o rapaz estava drogado, alcoolizado e não demonstrou surpresa quando percebeu que o rapaz portava quatro papelotes de cocaína e estava com o IPVA de seu carro atrasado a três anos, mesmo tempo sem vistoria.

Paulo desembarcou do carro para conversar com os policiais, Juliana muito assustada ficou no carro aguardando, tinha medo da violência policial, tinha medo de sofrer uma violência ou mesmo de Paulo ser morto.

Vieira perguntou de cara quanto Paulo tinha, ele mostrou, apenas oito reais, não tinha cheque, não tinha cartão de banco para fazer saques, estava somente com o cartão de crédito universitário, não ajudaria muito naquela hora, Vieira mandou ele perguntar á moça quanto ela tinha, quando ela disse que não tinha nada, Paulo, quase teve um troço, pediu chorando ao policial para que liberassem eles, pelo amor de deus, eles nunca mais iam dar mole, estas coisas que playboy pego erroneamente costuma falar para as autoridades.

Vieira deu-lhe um tapa na cara na hora, disse que era um absurdo, que levaria os dois para o distrito naquele momento, que enquadraria os dois por tráfico, que plantaria diversos flagrantes, que eles responderiam por aquilo pelo resto da vida, estas coisas que alguns poucos policiais costumam falar para os playboys pegos erroneamente.

Até que Rubens, que estava apenas observando a situação vira-se para seu superior e diz:

- até que a patricinha é bem bonita...

Ela de imediato começa a chorar e dá-se início uma mórbida negociação entre seu namoradinho Paulo e os dois policiais, ela ouve alguma coisa mas não consegue nem quer acreditar nas palavras emanadas naquele momento.

Passados uns dez minutos, Paulo entra no carro e diz para Juliana que ficará tudo bem se ela fizer sexo oral nos dois, caso contrário, sofrerão diversas violências até a chegada do distrito e então ficarão encrencados para o resto da vida, explica-lhe que conseguiu negociar, que ela não precisará “dar” para eles, será apenas sexo oral, uma coisa rápida e irrisória, ela aos prantos diz que não, que não quer, que prefere ir para a delegacia, que quer ligar para o pai e então Paulo grita com ela:

- já era! O que você dirá para seu pai? paga logo esta merda de boquete e vamos embora daqui, porra!

Começa a empurrar ela do carro e praticamente empurra ela até a viatura, os dois policiais encontravam-se fora dela e pelo combinado o primeiro, claro, será o sargento Vieira, eles adentram-se no banco de trás da viatura enquanto Paulo e Rubens aguardam o desenrolar da história fora.

Ela chorava muito, muito mesmo, ela viu o policial tirar a calça, a cueca, botar o membro pra fora e simplesmente não acreditava que aquilo estava acontecendo com ela, ouvir os comentários de que era pra ela ser boazinha, de que ele nunca fez isso com uma ninfeta tão bonita, que ela não era que nem as faveladas que ele catava no meio da noite enquanto com uma das mãos ele forçava sua cabeça pra cima e pra baixo em seu membro e ela sentia o seu mundo ruir, com a outra mão, ele passeava em seu corpo, seus seios, sua barriga, suas coxas, sua vagina, suas nádegas, até quando ele começou a urrar e despejar aquele líquido em sua boca, ele saiu realizado, ela cuspiu no chão da viatura sem ele perceber e continuava a chorar sem parar, estava praticamente nua, pois estava antes de vestidinho curto e Vieira praticamente tirou-o com a mão que passeava em seu corpo.

Rubens entrou no carro, começou tudo de novo, a mesma merda, o mesmo choro, praticamente as mesmas palavras e a mesma ação com a outra mão, mas Rubens era um pouco mais agressivo, apertava forte, falava mais alto, chamava ela de puta, de vagabunda e quando ele chegou lá, quando despejou o líquido na boca de Juliana, observou o que ela iria fazer, quando viu que ela iria cuspir, quase surtou, começou a dar tapas nela, a gritar e se tornar mais agressivo, mandou ela sair imediatamente da viatura do jeito que ela estava e ela obedeceu, saiu do carro praticamente nua, com alguns hematomas e sem mais nenhuma auto estima.

Os dois policiais foram embora rindo, ou melhor gargalhando, ganharam a noite, conseguiram o que queriam, sua satisfação e uma vida destruída, sim, Juliana nunca mais voltaria a ser a mesma.

Hoje, Juliana têm 29 anos, faz terapia ainda, engordou bastante, tenta melhorar seu problema de auto estima ajudando como voluntária algumas entidades filantrópicas, está cursando serviço social numa boa universidade pública, mora com os pais ainda e somente voltou a se relacionar com algum homem faz uns seis meses, um cara que ela conheceu como voluntário também, rapaz humilde e trabalhador que nem beber, bebe.

As vezes, ela sonha, ou melhor, têm pesadelos com homens fardados e nestes pesadelos, sempre houve gargalhadas altas e sonoras, acorda assustada, no meio da noite e começa a rezar, para que estes fantasmas não voltem, começa a pedir ao senhor que o que aconteceu naquele fatídico dia não seja nada mais que uma humilhação que ficou para trás.